As palavras que nos unem
Águida Hettwer
 
      A memória armazena fatos, situações e atos em pastas compartilhados as emoções. Revigora ou retrai, busca soluções ou entregam-se as lamentações banais do cotidiano. Como um filme, repetido várias vezes, cenas da vida retornam ao passado, uma frase marcante dita, um conselho amável recebido na infância. Uma punição pelo erro, um tom de voz alto e retumbante, uma ameaça, do tipo se você não for assim ou assado, a tão sonhada bicicleta, ou boneca da Barbye, não virá no Natal. Brigas e discussões entre irmãos, na maioria das vezes por ciúmes e para chamar a atenção dos pais e familiares. O sentimento de ser rejeitado, ou preferido, a busca constante de ser notado, mesmo sendo na vasta timidez. Melodia marcante, que vem até a boca, e não passa de apenas murmúrios esquecidos pelo tempo. Palavras salpicadas na memória, que nos unem, há pessoas que passaram em nossas vidas, deixando rastros marcados de saudade. Mesmo vislumbrando o futuro a um passo a frente. Sábias decisões tomadas para si e outras nem tanto, talvez se pudéssemos retroceder o tempo, com a mente madura e segura de si de hoje em dia, pudéssemos fazer tudo ou parcialmente diferente. Talvez hoje passando por algumas situações, pudéssemos cair em si e perceber o quanto nós fomos covardes em algum momento da vida. Palavras que se calaram, no momento em que mais precisaria ser ditas omissões que o tempo nos cobra em dobro. Pedindo permissão a vida, um pouco de malandragem e ousadia. Abrindo novos horizontes, aflorando raros perfumes, sílabas cruzadas no êxtase de uma nova paixão. Cruzando as mãos e agradecendo pela vida e existência, colocando-se no lugar do semelhante, percebendo com clareza a magnitude de tudo em nossa volta. Quiçá ter que experimentar o auge da dor, para valorizar aquilo que temos com humildade. Admitindo o quanto uns precisam dos outros, nada é eterno nessa passagem na terra e iremos todos um dia, ser transportados para um outro plano de Deus e o orgulho que conservamos não nos proporciona a passagem na primeira classe para eternidade. Sejamos portadores do amor, semeando paz e mansidão sobre a terra. Cultuando o respeito a todo ser vivente, independente de credo, ração ou condições financeiras. Pudéssemos achar soluções e menos reclamações. O mundo vive em guerras, onde a palavra não é alcançada, e o dom da vida perde-se por pouco de nada. Quanto mais nos refugiamos em nossos problemas, achamos desculpas, para não nos permitir, perdoar e ser perdoados, exigir mudanças e aceitar as diferenças alheias com desenvoltura e humildade. Ninguém humano, na face da terra, é tão soberano que não necessite de algo que um coração amigo possa ofertar. E tão pouco miserável que não possa doar um pingo de amor e atenção. Tanta vaidade que no fim não valem de nada.
 
 
13.02.2008