O que eu quero de você. (Maria mal-amada)
O que eu quero de você.
Crônica extraída do livro Maria mal-amada
de Lorena de Macedo
Antes de tudo, uma pergunta: Quem você pensa que é? Quem você pensa que é para se atirar desse precipício de amargura e solidão. Escondendo-se do que mais lhe agrada com a estúpida intenção de punir-se.
Quem você pensa que é para tratar-se dessa maneira vil e mentirosa. Onde está seu bom-humor tão invejado. Onde está o mau-humor sarcástico de quem se autodenomina mal-amada porque sabe que se ama demais. Você está perdendo as pétalas da margarida muito rapidamente, e o bem-me-quer mal-me-quer já não funciona como antes.
Olho para você todos os dias. Os espelhos me permitem lhe enxergar. Vejo além da casca e consigo extrair dessa feição disforme toda a doçura e leveza de quem se conhece o suficiente para saber do que é feita.
Acorda Maria, acorda! Levanta-te e anda! Distancie-se desse ser que não nos apetece. Enxugue as lágrimas, pois o corretivo lhe espera na estante do quarto. Seus problemas merecem que você se afunde nesse sofá surrado? Talvez mereçam alguns minutos de preocupação, nada mais do que isso. Nenhum segundo além do que é necessário para que você perceba a perda de segundos com problemas imundos.
Não me pergunte o que eu quero de você. O que espero de uma mulher como você. Não perco meu tempo com indagações óbvias. Eu quero uma fortaleza com acesso irrestrito para os nobres de coração. Quero roseiras nas sacadas do meu castelo, cores mil em meio à escuridão. O que quero de você não é nada além do que é capaz de me oferecer. Quero reflexos de aceitação. Amor próprio saindo pelos poros, orgulho e satisfação.
Que a menina por vezes encantoada no palco de um dramalhão barato, erga-se ereta diante do cavaleiro ingrato, dê-lhe um soco no rosto bonitinho e saia saltitante para traçar seu próprio caminho.
Maria mal-amada é o que sou. E sou por conta do que já tive. Mas não se engane não! Sou o que sou porque já tive muito do que hoje me falta. Já tive pseudo-príncipes com cavalos encardidos para os quais eu joguei as minhas tranças postiças de Rapunzel. Cavaleiros sem brasão, homens comuns em meio á multidão. Sapos, trapos, farrapos...
Quero que poupe as pétalas que ainda lhe restaram da última brincadeira, pois talvez o verdadeiro príncipe, aquele que não é perfeito nem encantado, queira contá-las com você.
Acorda mulher, acorda! Levanta e corre!
Lorena de Macedo