BIÓLOGO NIRTON TANGERINI
REVERDEJAR O BRASIL
[Escrita em 1988]
Nelson Marzullo Tangerini
“Deu no New York Times”? Não, deu mesmo no Jornal do Brasil: “O Brasil é o país onde mais se desrespeita a natureza, sem que o governo tome qualquer atitude”.
O filósofo alemão Hans Ulrich Gumbrecht, em entrevista ao suplemento literário Idéias, do JB, dia 3/9/1988, dizia: “Se existe um país em que a luta ecológica é realmente forte, este país é a Alemanha, e no entanto esta é uma batalha que, para nós, alemães, já está perdida. Na Alemanha já não temos o verde. Temos muito verde político, mas não temos o verde da natureza. Num país como o Brasil, ainda se poderia estancar este processo de destruição. Mas, ao mesmo tempo, vemos que ao invés de controlado, ele avança cada vez com mais rapidez’.
Conversando com meu irmão, o Prof. Nirton Tangerini, biólogo, ecologista, sensível, estudioso da vida das borboletas, chegamos à conclusão de que a Ecologia devia entrar no currículo das escolas e das faculdades – fossem elas de Economia ou de Engenharia.
Só assim amaríamos a natureza como a amam os índios.
Vislumbrando ainda mais esta idéia, pensamos num projeto intitulado REVERDEJAR O BRASIL. Já escrevi cartas a Affonso Romano de Sant´Anna, a Carlos Minc, entre outras personalidades, e para todos os jornais e revistas do Brasil.
Em que consistiria o projeto reverdejador do Brasil?
Ora, precisamos conjugar o verbo reverdejar. Conjuga-lo em todos os modos e em todos os tempos é imperativo. Porque precisamos reverdejar o Brasil: Eu reverdejo, tu reverdejas, ele reverdeja, nós reverdejamos, vós reverdejais, eles reverdejam...
Precisamos de voluntários: voluntários verdes, de espíritos, mentes e corações verdes; fiscais da natureza; militantes do verde e da verdade. Não ao militante da vertente da destruição!
As ONGs verdes poderiam abraçar esta causa. Cada Estado recrutaria os amantes da natureza – pessoas comuns, simples; poetas, professores; artistas -, que plantariam 10 árvores por dia. Isto seria uma forma de conviver com o verde, revertendo a tragédia das queimadas e dos desmatamentos. Só assim fiscalizaríamos a coisa de perto. Porque se deixarmos por conta do governo, estas áreas verdes acabarão se tornando cinzas, loteamentos para a burguesia, plantações de cana ou áreas de pasto para grandes latifundiários.
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Esta crônica é dedicada a Vinícius Ruiz Tangerini, ator, libertário, meu sobrinho, que reverdeja a Serra da Misericórdia, no subúrbio do Rio, e para Dalila Kopp Gaillard, ecologista, hoje residindo na França.
Texto enviado a diversos jornais e revistas e jamais publicado pela “grande imprensa”. Lido na Rádio Emboabas, de São João Del Rei, no dia 4 de junho de 2004. também publicada no jornal AAC INFORMATIVO, Órgão Informativo da Associação Nacional dos Aposentados dos Correios, Ano XI – n 1o. 27, Literatura, pág. 5, Brasília, DF, dezembro de 2004.
Nelson Marzullo Tangerini, 51 anos, é escritor, poeta, compositor, jornalista, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura.
É membro do Clube de Escritores Piracicaba.