OSVALDO MARTINS: UM IRMÃO, UM AMIGO
HÁ MUITO TEMPO EU ESTOU NA ESTRADA...
Nelson Marzullo Tangerini
Em 1978, quando tinha 23 anos, conheci, na rua Cruz e Sousa, no Encantado, subúrbio do Rio, através de nossa amiga comum Jussiara, que havia feito o 2o. grau comigo, um grupo de amigos, que me recebeu de braços abertos.
Dois deles, Osvaldo Luiz Cabral Martins e Nelson Maia Schocair, hoje professor de Língua Portuguesa e Literatura, escritor e Acadêmico - Imortal -, Cadeira 54 – Patrono Alcides Aldrovandi do Clube dos Escritores Piracicaba -, tocavam violão na igreja e começavam a compor. Aspirante a poeta e compositor, juntei-me a eles.
Vendo que nos entrosávamos bem, e que poderíamos formar uma banda (Lua Nova - depois Carta Geográfica, em homenagem ao poeta mineiro Murilo Mendes), Gilson Rodrigues Bezerra, que já nos deixou, convidou-nos para passarmos o carnaval daquele ano em sua casa de praia, em Sepetiba.
Ali, escrevemos algumas mal traçadas linhas, canções pobres, sem grande conteúdo. Mas estávamos felizes da vida por estarmos juntos, cantando e escrevendo alguma coisa.
Escrevemos, em Sepetiba, Osvaldo, Nelsinho e eu, a canção Marte que viria a se tornar o Hino de nossa turma – e de nossas vidas.
Quero, nesta crônica, prestar uma homenagem a Osvaldo Luiz Cabral Martins, professor de matemática e compositor, um grande irmão, que, também um dia nos deixaria.
Relato aqui um fato que sói acontecer nas melhores parcerias: como demos parceria ao outro em duas músicas: em Jeito Bandido e Trem. Porque havia escrito Jeito Bandido sozinho, numa viagem a Belo Horizonte, enquanto ele havia escrito sozinho Trem.
Tomamos tal atitude porque Nelson Maia Schocair, o Nelsinho, compositor, o que mais compunha, geralmente escrevia canções sozinho ou em parceria: Schocair & Tangerini ou Martins, Schocair & Tangerini.
Estar num grupo onde três pessoas escrevem é algo muito empolgante; faz com que surja uma competição muito proveitosa. Gostávamos de mostrar a nova canção para os outros.
E como éramos dois Nelsons e um Osvaldo, a turma que nos acompanhava acabou me dando, por ser o mais velho do trio, o apelido de Nelsão.
Eis, então, as canções que Osvaldo e eu escrevemos:
JEITO BANDIDO (Nelsão)
Há muito tempo eu estou na estrada
cantando meu rock rural por aí.
Há muito tempo eu não penso em nada
depois que alguém pintou por aqui.
Eu sempre ando na fogueira
quando tenho alguém no coração.
E esse jeito bandido de ser
é uma barreira, me levando à solidão.
E quem me vê, de cadeira,
não não pode imaginar
Que meu fraco é uma balada
e alguém no coração.
&
TREM (Osvaldo)
Trem, trem, trem,
que parte da estação,
caminho de ilusão.
Pelas montanhas
corta o prado com luar.
Quem, quem, quem
não teve uma paixão,
e procura explicação?
Paradoxo mortal
que invade o coração.
Vem, vem, vem...
Rio corre para o mar...
Tantas coisas pra levar...
Quero a tua pureza
e deixar tua incerteza.
Trem, quem vem
de viagem pra encontrar?
Não sei como, enfim, será.
Cavalos amarelos,
paraíso ou inferno.
Borboletas multicores,
talvez sonhos, talvez dores.
O professor e compositor Osvaldo Luiz Cabral Martins nasceu no Rio de Janeiro a 8 de setembro de 1955 e faleceu, na mesma cidade, a 17 de abril de 1993, deixando viúva a esposa Sra. Márcia Alice e uma filha desta união: a pianista, cantora e escritora Cristina Martins.
As canções Jeito Bandido e Trem foram registradas na UFRJ como sendo de Oswaldo Martins e Nelson Tangerini.
Nelson Marzullo Tangerini, 52 anos, é escritor, jornalista, fotógrafo, compositor e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba, onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini.