Rituais de Fim de Ano

Rituais de Fim de Ano.

Parece começar em fim de outubro, início de novembro, a percepção de que o ano está chegando ao fim. Para mim, esta percepção vem sempre acompanhada de uma quase obsessão em me desfazer de tudo aquilo que já não faz sentido. Primeiro as peças de roupas, sapatos, que por vezes me levam a uma compulsão de experimenta-los mais uma vez, antes da decisão final de retira-los para sempre de meu guarda-roupa. Depois vêm os papéis. Tarefa ainda mais árdua, pois acabo relendo um a um. E os papéis se dividem em várias categorias: jornais, revistas, xeróx amarelados, manuscritos, notícias impressas via. internet, sem falar do pior, que são os papéis de bancos, contas, e aqueles malditos papeizinhos amarelinhos que vão ficando pelas gavetas.

Necessito dar atenção a todos. Os manuscritos me convidam a questionar sobre a conveniência de digita-los, salva-los de alguma forma. A alguns reservo este futuro compromisso, e os deixo ocupando seu lugar em minha estante.

Dos objetos descartados, poucos continuam com seu lugar reservado em minha memória. Ao me despedir destes, lembro detalhes de suas histórias que se misturam com a minha. Outros não deixam rastros, mas uma inexplicável sensação de leveza com suas partidas.

Talvez, a “insustentável leveza do ser”, me leve a juntar tudo de novo no próximo ano, quem sabe. O fato é que a cada final de outubro me encontro com a necessidade deste balanço, a um só tempo objetivo e subjetivo. A leveza, apesar de insustentável ou por isto mesmo, é almejada. Gosto de senti-la e simboliza-la com a roupa branca que costumo usar no ano novo, a beira-mar.

Fim de ano para mim é sempre acompanhado de rituais, mas não exatamente daqueles que caracterizam o Natal e que considero tão estressantes. Gosto mesmo é de remexer o baú, esvazia-lo e, levitando, pisar no amanhã. Estes rituais, que expressam no concreto as mudanças já incorporadas, auxiliam-me na diluição do tempo.

Rocio Novaes
Enviado por Rocio Novaes em 14/12/2005
Código do texto: T85658