Perversa mente
Qual foi a perversa mente, percebeu que um homem forte
e negro não era um cidadão, um filho de Deus,
mas um instrumento para carregar peso como uma arredia mula?
Um ser somente para troca e venda – mercadoria.
Que invadiu sua humilde vida sem pedir permissão e
obrigou-o a servir mesas, carregar sacas sem ganhar dinheiro
e ainda ter que alimentar e engordar brancos sinhozinhos.
Sinhozinhos que só pensavam em matanças, que só pensavam
em abusos nos seus verdes canaviais plantados por esse homem
forte e negro.Que foi jogado no itinerário sangrento do tráfico negreiro, visto como um inferior, um submisso – “um bicho que falava um dialeto esquisito”. Que era obrigado a usar uma coleira gelada de ferro, que era presenteado com trinta chibatadas “com o mais fino couro” numa madeira que o branco chamava impiedosamente de tronco. Vivia engaiolado num lugar sem nenhum sentimento, sem comida, sem bebida e sem alegria - a senzala.
Sem direito a nada, somente carregar e servir.
Qual foi a perversa mente, percebeu que vender liberdade
era um ótimo negócio?
Qual foi a perversa mente, percebeu que exploração
era fonte de negócios e mordomias?
Qual foi a perversa mente que inventou as palavras:
mucama, açoite, tronco, senzala, contratador e capitão do mato.
Malditas palavras que sempre ficarão marcadas em nós...descendentes.