ACONTECEU EM UM DIA DE CHUVA
Era um dia de chuva. Sim. Somente em dias de chuva acontecem determinados milagres. Principalmente se é daquelas que chegam de surpresa, pegando a todos desprevenidos. O moço que vai de terno pela esplanada, a menina que passeia com seu poodle na praça, a dona de casa de acabou de sair do cabelereiro. Todos saem do sério e, em um instante, há um corre-corre louco em busca de abrigo.
E logo estão todos apinhados embaixo de alguma marquise, esperando a bátega passar. Ou não. Um monte de desconhecidos que nada teriam a ver um com o outro se não viessem dos céus as águas. Ou podem não ser tão desconhecidos assim, o que torna a hipótese ainda mais interessante.
A chuva que chega de supetão junta ou separa as pessoas, ocasionando situações sociais novas. Sidinéia nunca tinha visto nada de interessante em Luís, e estava indo para o encontro com Almeida. Mas agora, sob a marquise, percebe que Luís não é tão desinteressante assim. Especialmente com a camiseta molhada. Eis que chega o momento fatal, quando o galã diz: “estou com meu carro aqui perto; você quer uma carona?”
Comigo também aconteceu em dia de chuva. O céu estava cinzento, ameaçava cair chuva. Mas não conheço ninguém que se dê ao trabalho de carregar um guarda-chuva quando há apenas ameaça. Dá muito trabalho carregar aquela coisa toda, e que nem sempre é eficiente, dependendo do tamanho da chuva e da velocidade dos ventos que a acompanham.
O barulho da chuva caindo é excitante. Mesmo os tímidos deixam o medo de lado, e arriscam a pegar na mão da amiga para correr quando começam a cair as gotas. E fazer amor ouvindo o barulho da chuva? Penso que este prazer é universal. Há uma sensação de aconchego inigualável. Saber que estamos bem aqui no quarto, enquanto o mundo lá fora se molha e sente frio. Hum, tem leitor discordando do meu ponto de vista. Mas é uma minúscula e ridícula minoria. Tem gente que detesta qualquer coisa.
Mas a verdade é que aconteceu comigo em um dia de chuva. O quê? Ora, vai te catar, leitor curioso. Vê lá se vou ficar falando das minhas intimidades assim para desconhecidos. Mas darei uma pista para ilustrar a fantasia de vocês. Ela está em uma das situações descritas acima. Não. Não me chamo Sidinéia.