A CHINESA
A MILENAR SABEDORIA CHINESA
E A MALANDRAGEM BRASILEIRA
Nelson Marzullo Tangerini
Não é de hoje que o ser humano mais perverso tenta “se dar bem” em cima do ingênuo – ou melhor, do otário.
Revirando papéis de meu saudoso pai, Nestor Tangerini, encontrei a interessante anotação, feita na década de 40 [Século XX], quando o escritor morava com sua esposa, minha mãe, no bairro de Olaria, subúrbio da Cidade do Rio de Janeiro:
“Debruçada no muro do jardim, a vizinha – chinesa – ensina a Dona Dinah, esposa de Tangerini, que, na China, antes de se pôr o leite para ferver, banha-se o interior da vasilha com água fria, a fim de o leite não grudar no fundo.
E Tangerini, que está perto e ouve a lição:
- Mas aqui nós não precisamos disso: o leiteiro já pôs água no leite”.
Esta formidável anotação, que poderia ter sido transformada em crônica, à época, me fez lembrar de um episódio recente, quando uma corja de salafrários resolveu adulterar leite e queijo fabricados em Minas Gerais, distribuindo-os no Estado de São Paulo, através da firmas Parmalat e Longa Vida, pouco se importando com a vida humana.
A amizade entre D. Dinah e a chinesa acabaram por desviar-me das intenções desta crônica e fazer uma homenagem aos chineses: econômicos em sorrisos e palavras.
Quem se lembra nos tempos atuais, quando tudo é “fast-food” e descartável, dos ensinamentos e ditados da milenar sabedoria chinesa é tachado de velhaco, de intelectual de meia tigela, de bobalhão, de museu ambulante de frases.
Não me importo com isto, com esses espíritos desprovidos de conhecimento e sensiblidade. Num mundo americanizado – ou globalizado -, gosto de ser diferente e sacar do meu “arquivo” alguns antigos provérbios chineses. E vêm-me, agora, à mente, dois deles:
“Quem trabalha com lenha, acaba com farpas nas mãos”.
Ou
“Aquele que procura vingança, deve cavar dois túmulos”.
Mas eu gostaria de voltar a Brasil, “terra de heróis e tribunos, de cinqüenta mil gatunos”, como diria Nestor Tangerini na poesia Bombas, da malandragem, da Lei do Gérson:
“Gosto de levar vantagem em tudo, certo?”
Errado.
Sem educação, sem espírito de solidariedade e humanidade será difícil o Brasil caminhar para a frente, em direção ao Primeiro Mundo.
Ser esperto, desonesto, ludibriar o próximo, passar a perna no otário é a “filosofia do momento”. E muitos políticos continuam com esta mentalidade. Alguns deles estão aí, utilizando o Cartão Corporativo, gastando o dinheiro público.
O caso dos laticínios me fez adulterar – de modo geral - um velho ditado popular e dizer, ironicamente, que “Não adianta chorar o leite adulterado”. Plagiando o Exmo. Sr. Ministro da Cultura Gilberto Gil, “Não chores mais”. Até porque é difícil, neste país, os endinheirados irem presos. É hora de agir! Tire esses corruptos do poder. Não vote mais neles.
Nelson Marzullo Tangerini, 52 anos, é escritor, jornalista, fotógrafo, compositor e professor de Língua Portuguesa e Literatura. Acadêmico, Imortal, é membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini.