CAFÉ DA MANHÃ .

 

 

   Quero pedir um grande favor a minhas amigas e até para as inimigas. É o seguinte: não leiam esta crônica. Ela contém fatos verídicos que colocaram em risco a integridade física e emocional, além de terem trazido muitos aborrecimentos a uma pobre esposa desavisada.

   A ssim, já que estamos combinados (com toda certeza minhas amigas não são curiosas...), passo a escrever só para os amigos e para delírio dos inimigos.

   Tudo começou com a visita de um casal de amigos. Ela, talvez por não ter mais nada para comentar (na verdade para fofocar) , nos contou sobre a bela surpresa que o marido lhe fizera na véspera, dia do seu aniversário. Logo cedo ele serviu um sortido e delicioso café da manhã na cama, ao som de uma música suave executada por violinos e na sequência da surpresa, a aniversariante recebeu um belíssimo buquê de perfumadas rosas vermelhas que o florista tinha acabado de entregar.

   Como num passe de mágica, o orgulhoso marido levantou o travesseiro e lhe deu um pequeno pacote que continha um valioso anel.

   Depois que eles saíram minha mulher não fez nenhum comentário, mas não foi difícil perceber que ela ficara impressionada com as homenagens recebidas pela amiga. Aquilo, entretanto me incomodou um pouco, pois dali a uma semana seria o aniversário dela e eu gostaria de fazer igual, ou melhor.

   A idéia foi amadurecendo e à medida que o tempo passava fui arquitetando o que de melhor poderia fazer para surpreender minha mulher. Surpreender.....lembrem-se bem desta palavra!

   Acreditava que não teria nenhuma dificuldade em preparar o café da manhã, encomendar as flores, escolher um CD com música instrumental e comprar um presente (não seria exatamente um anel, mas que seria um belo presente, lá isso seria) .

   Na véspera , saí um pouco mais cedo do trabalho. A idéia era ir ao shopping para depois dar uma passadinha rápida no florista, meu conhecido, para encomendar as flores. Já tinha ido ao supermercado, onde comprei ovos (para o omelete), laranjas (para o suco), morangos (para misturar com chantilly), queijo minas (prá comer com goiabada), pão de forma (para as torradas) e um pote de geléia de goiaba (para passar nas torradas). Aparentemente, não tinha esquecido nada. Com certeza, minha mulher teria uma bela surpresa, e que surpresa !

   No shopping tinha comprado uma linda camisola vermelha, suave e transparente que com certeza, ela iria adorar. Não era um anel, mas era uma camisola ! Deixei as compras na mala do carro para não estragar a surpresa e , alegando cansaço, naquela noite fui deitar bem mais cedo.

   Por volta das cinco da manhã acordei, levantei-me com todo cuidado e fui a garagem pegar o que tinha comprado. Estava tudo no mesmo lugar só que não gostei muito da aparência do queijo, dos morangos e do pão de forma. Mesmo assim, peguei tudo e fui para a cozinha....

   Só um mês depois do aniversário é que minha mulher voltou a falar comigo. Ela estava magoada, irritada, decepcionada mas, como tinha bom coração resolveu me perdoar. Ela entendeu (à muito custo, algumas preces e uma promessa) que tive a melhor das intenções e que se alguma coisa tinha saído errado, a culpa não era totalmente minha.

   Provavelmente, daqui a muitos anos (se ela sobreviver nas minhas mãos), vai achar tudo muito engraçado (estou contando com isso...). Mas eu aqui falando, falando, me desculpando e sem explicar o que houve. Como certamente minhas amigas não vão ler esta crônica, lá vai...

   Quando cheguei a cozinha abri os embrulhos e deixei tudo em cima da mesa. Separei quatro fatias de pão de forma e coloquei na torradeira. Essa era a parte fácil. Lavei os morangos e as laranjas e coloquei tudo junto no liquidificador. Aí percebi meu primeiro erro.

   Os morangos eram para comer com chantilly, que aliás, tinha esquecido de comprar. Não teria muito problema, primeiro porque caprichei na dose de açúcar no suco e segundo, ele ficou com uma cor linda. A problema maior seria fazer a omelete, pois eu não tinha muita (na verdade, nenhuma) prática.

   Como já tinha visto na televisão, quebrei os ovos (não posso afirmar com certeza, mas pareceu-me que tinha deixado cair várias cascas) e joguei na frigideira. Saiu alguma parecida com a comida do periquito mas, o cheiro estava muito bom.

   Me esquecera das torradas, que ficaram um pouco escuras, mas contava que a geléia de goiaba pudesse disfarçar o gosto. Faltava derreter o queijo (preferi derretê-lo, pois também esqueci da goiabada).

   Cortei  um bom pedaço, espetei num garfo, acendi o fogo bem forte e esperei alguns minutos. Interessante, eu não sabia que queijo minas derretia tão rápido e o que é pior, escorria pelo fogão. Resolvi desistir do queijo. Minha mulher talvez não sentisse falta.

   Tinha combinado com meu amigo das flores para chegar lá pelas sete. Arrumei tudo na bandeja, peguei o pacote com a camisola e subi para o meu quarto. Ela ainda dormia. Acendi a luz do abajour e curiosa ela me olhou, sem entender muito bem o que estava acontecendo. Ainda assim me agradeceu.

   Neste momento a campainha tocou e eu fiz questão que ela mesma recebesse a encomenda. Não deveria ter feito isso. O florista (aquele infeliz!) mandara entregar uma coroa de flores, com os dizeres : “Vou te amar sempre!”. O sujeito confundiu “flores para minha coroa” , com uma “coroa de flores”.

   A história acaba assim: minha mulher desmaiou, quando despertou não quis nem saber do café da manhã (que com a claridade do sol estava de fato com uma aparência horrível..) e a camisola, para sua decepção e muitas lágrimas, era dois tamanhos maior do que ela usava.....

 

                             **************



(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 11/02/2008
Reeditado em 07/01/2013
Código do texto: T855155
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.