POETA OLEGÁRIO MARIANO

O POETA OLEGÁRIO MARIANO

Nelson Marzullo Tangerini

Poeta de rara sensibilidade, Olegário Mariano, hoje esquecido e pouco estudado, é autor de Conselho de Amigo, um belíssimo soneto, criado a partir dá fábula “A cigarra e a formiga”: versos que guardei em um de meus cadernos de anotações:

“Cigarra! Levo a ouvir-te o dia inteiro,

gosto da tua frívola cantiga,

mas vou dar-te um conselho, rapariga:

trata de abastecer o teu celeiro.

Trabalha, segue o exemplo da formiga.

Aí vem o inverno, as chuvas, o nevoeiro,

e tu, não tendo um pouso hospitaleiro,

pedirás... E é bem triste ser mendiga.

E ela, ouvido os conselhos que eu lhe dava

(Quem dá conselhos sempre se consome...)

continuava cantando... Continuava...

Parece que no canto ela dizia:

se eu deixar de cantar, morro de fome....

que a cantiga é o meu pão de cada dia”.

Admirador confesso do filólogo e temido anarquista José Oiticica, o humorista Nestor Tangerini cria, no final da década de 40, o pseudônimo José Oitiçoca.

Este personagem engraçado aparece, enfim, na revista de humor e sátira O Espeto, fundada por Tangerini e amigos – Lourival Reis (o radialista Prof. Zé Bacurau), Ieda Reis, o cunhado Maurício Marzullo (advogado e poeta), Abel (caricaturista), entre outros, tirando dúvidas gramaticais de leitores fictícios.

Neste texto, publicado na referida revista, Ano 1, no. 6, p. 7, Rio de Janeiro, dezembro de 1947, ele relata um episódio – talvez verídico – que aconteceu com o poeta e amigo Olegário Mariano:

“J. Amoroso (Distrito Federal) – A palavra “amante” tanto é sinônimo de “amásio, amásia”, como significa “apreciador, apreciadora”.

Convém, no entanto, evitar o emprego do termo no segundo sentido, quando tratamos com pessoa de pouca instrução, e isso a fim de evitar aconteça o que se deu, certa vez, com o jovem Olegário Mariano.

Era seu conhecido um negociante de secos e molhados, cuja esposa se dedicava às letras, ao descaso do marido, que não entendia nada “daquilo”. Apresentado, uma tarde, no armazém, à respeitável senhora, com quem mantivera longa palestra, enquanto “seu” Manuel despachava a freguesia – o distinto vate, finda a boa prosa, dirigiu-se ao comerciante e reclamou:

Como o senhor é egoísta, “seu” Manuel! Por que não me apresentou sua esposa há mais tempo, e não me disse que ela era amante de Castro Alves e Machado de Assis?

O negociante sacou da gaveta o revólver e nunca um poeta correu tanto em sua vida...”

Olegário Mariano Carneiro da Cunha, poeta contemporâneo, nasceu no Recife, Pernambuco, em 24 de março de 1889, e faleceu no Rio de Janeiro, em 28 de novembro de 1958. Diplomata, foi Embaixador do Brasil em Portugal e membro da Academia Brasileira de Letras.

Nelson Marzullo Tangerini, 52 anos, é escritor, jornalista, fotógrafo, compositor e professor de Língua Portuguesa e Literatura. Acadêmico, Imortal,é membro do Clube dos Escritores Piracicaba [clube.escritores@uol.com.br ] onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 11/02/2008
Código do texto: T854602