Crônica Niilista (Os Pombos na Rua )
No passeio da praça vejo os pombos que pousam na rua. Eles comem carne humana em meio a fumaça dos prédios. Vejo o real esfaqueando o imaginário com a baioneta do francês morto. Desço a rua e vejo a moça a contar girassóis com uma lança na mão, dela, pingam gotas de óleo e sangue. Meu mundo imaginário se faz presente no grafite do muro, ao lado da igreja. Não lembro o que me escreveram, só lembro da fuligem dos carros combrindo-o por inteiro.
Mundo novo este, meu caro amigo! Sua alteza real agora limpa o sóton de Madame Bovary. Ela não é desse tempo, mas disputa com Macunaíma aquela esquina de perdição. Os pombos comeram as prostituas de Barcelona no último bombardeio, e Goya, ainda esmola por amor. Niilismo é religião.
Vou durmir no hotel, onde tudo é sujo. Não perco o sono por meras visões, meu nítido senso comum filosófico explica mais do que o tal Freud. Mas não me importo, durmo.
Até mais, pombos carnívoros.