MEU CARO AMIGO
Uma crônica não fica pronta antes da hora. Nem mesmo se configura. Desde ontem à tarde, abandono cada início, como se abandona um chinelo velho. Nenhum deles levar-me-á muito longe. Velhas amizades; novas amizades; amizades que perduraram; amizades que acabaram; amizades que não eram amizades...
Mas continuo otimista. Meu grilo (ou meu vaga-lume) cochicha ao meu ouvido que não devo desistir.
Ontem passei o dia com duas pessoas, duas mulheres reais, que conheci primeiramente no mundo virtual. Foi um ótimo dia. Não é a primeira vez em que nos encontramos para estarmos juntas e conversar. Fazemos isso de vez em quando desde o ano passado e com alguma freqüência nos falamos ao telefone. Sem dúvida trocamos e-mails diariamente, às vezes mais de um por dia. Somos solidárias e temos muitas afinidades. Uma delas é a Sonia , que também é recantista; outra é a Silvia .Conheci ambas em um outro site. Já mencionei que foi a Sonia a indicar-me o Recanto das Letras.
Mas andei lendo as postagens e concluí que, ao seguir aquela idéia inicial, estaria sendo pouco original. Iria escrever, comentar ou relatar fatos muito parecidos aos dos meus colegas. Posso ser acusada de plágio... Nunca se sabe. Fiquei com receio de que o Paulo Camelo fizesse isso, ao ler aquele soneto monossilábico ...
Então desisto de comparar amigos virtuais e amigos reais. Quero apenas falar de amigos.
Para isso preciso de duas distinções básicas. Temos muitos amigos e chamamos todos de amigos. Isso traz à minha lembrança “Instruções para subir uma escada” * de Cortázar. Nesse conto ele começa a ensinar como se sobe uma escada, dizendo que para tal, tendo em vista o primeiro degrau, levanta-se a extremidade direita do corpo, "quase sempre envolvida em couro ou camurça (...) que para simplificar chamaremos de pé, recolhe-se a parte correspondente do lado esquerdo, também chamada pé (...) e ,levando-a à altura do pé já mencionado, continuar até apóia-lo no segundo degrau", para dar continuidade ao processo. Mas, adverte, é preciso cuidado para não levantar o pé e o pé ao mesmo tempo...
Não podemos misturar amigo com amigos. Há formas de distinção, algumas mais antigas, outras mais modernas ... Há colegas, companheiros, amigos disso, amigos daquilo... Mas a canção diz bem: amigo, no singular. Sem menosprezar o valor dos amigos, amigo é algo diferente. Amigo é singular. Amigo não preenche os dedos de uma de nossas mãos (dito dessa forma para evitar um horrível cacófato).
Recentemente, ouvi a definição de que amigo é aquele que entende o que nos vai na alma, aquele que compreende como somos em nosso íntimo, as nossas necessidades mais profundas, e afetuosamente nos ajuda a preenchê-las, sem nada esperar em troca, alegrando-se conosco por isso.
Eu encontrei um amigo assim (ou ele me encontrou). Alguém que olhou pra mim, que olha pra mim e consegue perceber, consegue entender as minhas curiosidade e necessidade inatas, de não deixar perguntas sem respostas; a expectativa que provocam as indagações que ficam no ar, a necessidade (espero que válida) de aprender sempre, de entender, compreender como as coisas são e o conseqüente apaziguamento, a alegria mesmo, que advém das questões resolvidas, das dúvidas esclarecidas.
Esse amigo é uma pessoa muito especial, um amigo de verdade, um amigo verdadeiro, um verdadeiro amigo. De onde ele surgiu, não importa. Ele é bem real e eu poderia descrevê-lo, dizer do seu rosto de menino, do seu cabelo rente, do seu porte, da forma como age, dos seus olhos, da sua fala, de como caminha, como fotografa, como sorri, como conversa, de como se cala, de como se veste. Faria isso facilmente, mas não quero fazê-lo. O motivo é simples: roubaria, de quem vier a conhecê-lo futuramente, o prazer da própria descoberta. Então me calo sobre isso...
Mas, estou a desviar-me, esquecendo de comentar por que a minha crônica mudou de rumo. Apenas hoje fiz uma descoberta, porque depois de uma viagem não retornei diretamente para casa e assim, somente agora me demorei mais a ver as postagens antigas. Algo chamou a minha atenção e fui ao tópico “Poemas ao Contrário” . Fiquei absolutamente maravilhada quando vi a resposta do Paulo Camelo para um problema que eu havia apresentado: como compor um "soneto ao contrário", preservando suas características em relação às rimas. Maravilhada com a solução, pois além de tudo, isso todos já sabem, esse amigo é um homem de extraordinário talento, não só para a poesia, mas com certeza, sobretudo para a poesia.
Grande honra é ter um amigo assim. Que os céus me ajudem a valorizar e a saber cuidar dessa amizade. Com diria Vinícius, Saravá, Paulo Camelo.
Uma crônica não fica pronta antes da hora. Nem mesmo se configura. Desde ontem à tarde, abandono cada início, como se abandona um chinelo velho. Nenhum deles levar-me-á muito longe. Velhas amizades; novas amizades; amizades que perduraram; amizades que acabaram; amizades que não eram amizades...
Mas continuo otimista. Meu grilo (ou meu vaga-lume) cochicha ao meu ouvido que não devo desistir.
Ontem passei o dia com duas pessoas, duas mulheres reais, que conheci primeiramente no mundo virtual. Foi um ótimo dia. Não é a primeira vez em que nos encontramos para estarmos juntas e conversar. Fazemos isso de vez em quando desde o ano passado e com alguma freqüência nos falamos ao telefone. Sem dúvida trocamos e-mails diariamente, às vezes mais de um por dia. Somos solidárias e temos muitas afinidades. Uma delas é a Sonia , que também é recantista; outra é a Silvia .Conheci ambas em um outro site. Já mencionei que foi a Sonia a indicar-me o Recanto das Letras.
Mas andei lendo as postagens e concluí que, ao seguir aquela idéia inicial, estaria sendo pouco original. Iria escrever, comentar ou relatar fatos muito parecidos aos dos meus colegas. Posso ser acusada de plágio... Nunca se sabe. Fiquei com receio de que o Paulo Camelo fizesse isso, ao ler aquele soneto monossilábico ...
Então desisto de comparar amigos virtuais e amigos reais. Quero apenas falar de amigos.
Para isso preciso de duas distinções básicas. Temos muitos amigos e chamamos todos de amigos. Isso traz à minha lembrança “Instruções para subir uma escada” * de Cortázar. Nesse conto ele começa a ensinar como se sobe uma escada, dizendo que para tal, tendo em vista o primeiro degrau, levanta-se a extremidade direita do corpo, "quase sempre envolvida em couro ou camurça (...) que para simplificar chamaremos de pé, recolhe-se a parte correspondente do lado esquerdo, também chamada pé (...) e ,levando-a à altura do pé já mencionado, continuar até apóia-lo no segundo degrau", para dar continuidade ao processo. Mas, adverte, é preciso cuidado para não levantar o pé e o pé ao mesmo tempo...
Não podemos misturar amigo com amigos. Há formas de distinção, algumas mais antigas, outras mais modernas ... Há colegas, companheiros, amigos disso, amigos daquilo... Mas a canção diz bem: amigo, no singular. Sem menosprezar o valor dos amigos, amigo é algo diferente. Amigo é singular. Amigo não preenche os dedos de uma de nossas mãos (dito dessa forma para evitar um horrível cacófato).
Recentemente, ouvi a definição de que amigo é aquele que entende o que nos vai na alma, aquele que compreende como somos em nosso íntimo, as nossas necessidades mais profundas, e afetuosamente nos ajuda a preenchê-las, sem nada esperar em troca, alegrando-se conosco por isso.
Eu encontrei um amigo assim (ou ele me encontrou). Alguém que olhou pra mim, que olha pra mim e consegue perceber, consegue entender as minhas curiosidade e necessidade inatas, de não deixar perguntas sem respostas; a expectativa que provocam as indagações que ficam no ar, a necessidade (espero que válida) de aprender sempre, de entender, compreender como as coisas são e o conseqüente apaziguamento, a alegria mesmo, que advém das questões resolvidas, das dúvidas esclarecidas.
Esse amigo é uma pessoa muito especial, um amigo de verdade, um amigo verdadeiro, um verdadeiro amigo. De onde ele surgiu, não importa. Ele é bem real e eu poderia descrevê-lo, dizer do seu rosto de menino, do seu cabelo rente, do seu porte, da forma como age, dos seus olhos, da sua fala, de como caminha, como fotografa, como sorri, como conversa, de como se cala, de como se veste. Faria isso facilmente, mas não quero fazê-lo. O motivo é simples: roubaria, de quem vier a conhecê-lo futuramente, o prazer da própria descoberta. Então me calo sobre isso...
Mas, estou a desviar-me, esquecendo de comentar por que a minha crônica mudou de rumo. Apenas hoje fiz uma descoberta, porque depois de uma viagem não retornei diretamente para casa e assim, somente agora me demorei mais a ver as postagens antigas. Algo chamou a minha atenção e fui ao tópico “Poemas ao Contrário” . Fiquei absolutamente maravilhada quando vi a resposta do Paulo Camelo para um problema que eu havia apresentado: como compor um "soneto ao contrário", preservando suas características em relação às rimas. Maravilhada com a solução, pois além de tudo, isso todos já sabem, esse amigo é um homem de extraordinário talento, não só para a poesia, mas com certeza, sobretudo para a poesia.
Grande honra é ter um amigo assim. Que os céus me ajudem a valorizar e a saber cuidar dessa amizade. Com diria Vinícius, Saravá, Paulo Camelo.