SALAS,VARANDAS E QUINTAIS

SALAS VARANDAS E QUINTAIS

Quando sinto muito vivas em minha memória velhas lembranças se alinhavando à contemporaneidade,ainda hoje instruindo a minha vida com seus princípios de valores e atitudes, é que avalio a imprudência, atualmente tão inconscientemente cometida, de se expulsar da memória não só o ontem recente como também, abortar instantes praticamente não vividos com todo e qualquer valor que neles possa residir, para atender ao imediatismo que a vida impõe. Lembranças mais remotas então, nem pensar.

É como se os valores mudassem como a moda, como se a vida pudesse ser descartável, tudo justificado pela modernidade lépida que engole o tempo.

Pessoas, cada vez mais se assemelhando a objetos, parecem conformadas com a fugacidade da sua utilidade, assim como acham natural a fragilidade do vínculo descartável que estabelecem entre si, fazendo com que sua existência não constitua lembranças.

As previsões de um futuro apocalíptico com o advento da modernidade, não revelaram que o caos teria sua origem tão simplesmente na destruição dos referenciais humanos, cuja ruptura nos distanciaria do Divino.

Hoje, sem pretensões acadêmicas, eu proponho a defesa da lembrança que resgata memórias com tesouros acumulados na forma de valores imprescindíveis à formação da consciência humana.

Isto favorece recordar gentes, fatos, cenários de um caminhar que todos fizemos e que cuja lembrança deveria sempre ter um lugar especial na nossa vida.

Conversas, receitas, conselhos e causos...Sabedorias dos mais velhos, recebidas em Salas Varandas e Quintais, que hoje guardo como tesouros por constituírem a referência de quem se isentou do imediatismo que equivoca valores e rifa atitudes. Referências que preservo e procuro utilizar no meu cotidiano por temer correr o risco de, de repente perder minha identidade e passar a ser protagonista da catástrofe da desumanização.

Esta é a minha proposta para o início de uma crônica capitulada na qual procurarei estabelecer uma conversa que nos remeta a lembranças mais importantes da nossa existência, à origem da nossa formação, onde bebemos da fonte de tudo o que seria imprescindível em nossa vida e, que infelizmente, às vezes esquecemos.