Buenos Aires 4 (calamares e o calor da amizade)

Capuano, esposa, irmã e cunhado quizeram me proporcionar um jantar e insistiram para que eu escolhesse o tipo de comida. Após 10 dias comendo carne, embora da melhor qualidade, frango, papas (batatas) fritas, eventualmente até alguns “graúdos” de boi, chegara a minha oportunidade de demonstrar simplicidade e satisfazer ao mesmo tempo uma vontade e uma curiosidade : arroz; como seria o arroz argentino? Sim, esses grãozinhos que comemos diariamente e nem nos damos conta de quanto gostamos até sair do país. Arroz? Arroz? Os quatro precisaram conferenciar até que o Jorge se lembrou de um restaurante que servia um prato especial : arroz com calamares.

A mim, o complemento “com calamares” soou até apetitoso, embora eu ainda não soubesse o que eram os tais. Não me importei muito, pois imaginei que seriam “camarones”.

Após os primeiros copos de vinho, eis que chega à mesa o meu pedido: uma grande travessa, suficiente para umas 5 pessoas (e só eu é que pedi aquele prato), repleta de arroz com coloração avermelhada. Logo pensei: é risoto de camarão. Ledo engano!

Agora já à minha frente, com quatro pares de olhos pregados em mim, mais os do garçon, todos querendo ver a minha cara de satisfação. Foi então que eu vi, saindo por entre os grãos de arroz aquelas pequenas coisinhas: perninhas (ou bracinhos?) de polvo ou de lula, sei lá... O garfo fazia malabarismos tentando trazer para a boca apenas arroz, mas o danado do restaurante era honesto e o prato não era como aqueles risotos de camarão que de camarão só tem o cheiro. Aquele tinha polvo, e muito... O máximo que eu consegui foi cortar aquelas perninhas no menor tamanho possível, para que passassem pela língua e pela garganta quase sem tocá-las.

Bobagem minha, hoje eu como polvo, lula e praticamente todos os frutos do mar. São saborosos e muito nutritivos. É que na primeira vez, né...

Mas esse pessoal que me recebeu lá, fora o lado profissional que era uma obrigação para eles e para mim, me deixou uma imagem muito positiva dos Argentinos. Não sabiam o que fazer para me agradar.

Numa outra noite, fui à casa do Jorge e da Giovanna, esposa dele e irmão do Capuano. Era o dia de um Santo (não me recordo agora) em que todas as famílias ficam em casa e se reúnem para orações em torno da mesa para que sejam felizes para sempre, permaneçam unidas e com fartura. E me convidaram, vejam só...

Selamos uma amizade que o tempo e a distância não ajudaram muito a prosperar, mas eu os tenho no meu coração, especialmente pela consideração especial naquela noite.

Leo Della Volpe
Enviado por Leo Della Volpe em 10/02/2008
Reeditado em 25/03/2011
Código do texto: T853475
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