Ontem e hoje

Como se fosse papo de boteco, lá vai os argumentos de advogado dos casos perdidos... Faz de conta que é sob o efeito da 15ª cerveja. Essa preparação defensiva pode ser justificável, ou no mínimo explicável, pelo que já ouvi de amigos: “lá vem você defendendo esse aí...” Bem, primeiro gostaria de defender o mundo. Explico: é que muita gente, (não sei se, a maioria) fala que o mundo está perdido. Que hoje em dia isso, nos dias de hoje, aquilo... Quando se referem à violência, aos novos costumes, aos valores invertidos... ...É claro que há verdade nisso! Absoluta! Porém quando a olhamos como relativa, isto é, quando tomamos alguma outra época como parâmetro, vemos logo que a época-referência era de desinformação. Nós não sabíamos o que estava acontecendo. Não havia a TV que temos hoje, (para não falar dos outros meios de comunicação instantânea). Não tínhamos liberdade e nem platéia para debater ou comentar os parcos e quase sempre anacrônicos fatos sabidos. Para ser maledicente com esses apocalípticos eu diria que grande parte da energia era gasta com preconceitos, repressões e as mesmíssimas maldades sociais inerentes ao ser humano e sua organização em qualquer esfera. De Garcia Marquez a Nelson Rodrigues, os dramas humanos eram mostrados para meia dúzia de interessados que, em última análise, são os mesmos detentores contemporâneos de informação um pouco mais crítica. De modo que a maior parte dos que hoje encaram os fatos com pessimismo e saudosismo parece ser tão alheia aos fatos determinantes de sua própria vida como sempre o foram. Evidentemente, quem nunca foi assaltado no semáforo de uma grande cidade na década de 60 e o foi nestes tempos atuais tem esta razão localizada e certamente o conseqüente medo. Mas quem tinha carro para isso naquele tempo? Claro, alguns tinham! Alguns... Mas não vejo muitas alusões a esse fato. Do mesmo jeito, havia políticos ricos naqueles tempos. Provavelmente quase todos eram muito ricos. Longe de ser inimigo da riqueza, quero lembrar que ninguém se interessava muito (a não ser alguns poucos, incumbidos ou versados no assunto), em saber a origem da bufunfa dos coronéis. Lembro é de certa subserviência, sobretudo nos grotões, hoje florestados de parabólicas. Se retrocedermos para aquém dos anos dourados, como numa maquina do tempo, “veremos” esses remanescentes não terem sequer diagnósticos para suas doenças nem causa-mortis para suas idéias. A comunicação, mais do que outro qualquer privilégio atual, teve o efeito colateral de dar voz a quem jamais teria em sua época de ouro por absoluta incapacidade de se destacar entre os verdadeiros pensadores, sociólogos ou visionários. Infelizmente vemos a multiplicação dessa forma de pensar ser absorvida por uma legião de “sem-juízos” por mais que vejam na TV como era o castigo romano, como foi a escravidão, do que se tratava a inquisição, que houve uma massacre na Manchúria e um holocausto de judeus etc., e que Papas Doc, Idi Amim’s Dada e tantos e quantos loucos que despovoaram suas nações existiram de verdade e que estes fatos e pessoas foram (para ser simplista) resultado de pensamentos defasados e de desinformação das populações.