ADONIRAN BARBOSA

ADONIRAN BARBOSA – PINTADO DE VERDE

Nelson Marzullo Tangerini

No final da década de 1970, quando era leitor da lendária Revista Pop, conheci a jornalista paulistana Maria Lúcia Zanelli, uma canceriana mística e apaixonada pela Índia.

Escrevi uma cartinha para a referida revista. Meu anúncio foi publicado e eu recebi inúmeras cartas.

Uma delas era de La Zanelli. Trocamos correspondência. Ficamos amigos. E nos conhecemos pessoalmente.

Nossa amizade durou até quase o final da década de 1980, quando perdemos o contato.

Tentei encontrá-la no Orkut. Encontrei-a. Fiquei sabendo, pelo seu perfil, que está casada, tem filhos e está trabalhando na profissão. Deixei-lhe recado. Mas Lúcia não me retornou.

É que lembrei-me de um fato contado pelo pai dela, o italiano Felício Zanelli, e queria maiores informações para a feitura desta crônica. Queria, inclusive, saber como anda o italiano.

Felício veio jovem para o Brasil e fez amizade com o cantor e compositor Adoniran Barbosa, descendente de italianos.

Os dois eram muito amigos. Saiam juntos. Passavam por “aperto’ juntos. Dividiam o que tinham. Era uma amizade sincera.

Um certo dia, um deles – não sei mais quem foi -, comprou um bilhete da loteria. O que ganhou o prêmio, convidou o outro para irem a um um armarinho e comprarem um tecido para a confecção de um terno. Não era muito dinheiro, contou-me Felício, mas dava para comprar um corte de fazenda barato e fazer uma farrinha.

- Sabe aquele bilhete que comprei? Pois é, acabei ganhando na loteria. Vamos comprar um corte de fazenda bem grande para nós dois e vamos a um alfaiate. Vamos mandar fazer dois ternos.

Escolheram, num armarinho mais próximo, um tecido verde, da cor do Parmera, e partiram rumo ao centro de São Paulo à procura de um Alfaiate, que tirou-lhes a medida.

Pronto o terno, pago o serviço, resolveram estreá-lo numa festa que um deles arrumou.

E lá foram os amici Felício Zenelli e Adoniram...

Na volta para casa, os periquitos não contavam com a mudança do tempo na capital paulista.

Um forte temporal desceu sobre a Terra da Garota e Felício e Adoniran ficaram como dois pintos molhados. Mas conseguiram, com muito sacrifício, chegar a suas casas, sãos e salvos.

Ao tirarem a roupa, no entanto, notaram que estavam pintados de verde. A tal fazenda era muito vagabunda e a tinta, por causa da água da chuva, deixou-os esverdeados do pescoço aos pés.

Zanelli me contou que, diante da cena tragicômica, riu bastante naquela noite.

No dia seguinte, um virou-se para o outro e perguntou:

- Chegaste bem em casa?

- Sim, cheguei?

- Ficaste pintado de verde, companheiro?

- Sim, fiquei.

- Que fazenda vagabunda, heim?

- É... que fazenda vagabunda!

Lembrando o velho ditado, o barato saiu caro.

_______________________________________________________________

P.S.:

Gostaria que esta crônica fosse lida por La Zanelli e que a jornalista me corrigisse, se errei em algum momento.

_______________________________________________________________

Nelson Marzullo Tangerini, 51 anos, é escritor, jornalista, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura.

É membro do Clube de Escritores Piracicaba.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 10/02/2008
Código do texto: T853166