DERCY GONÇALVES E TANGERINI
DERCY GONÇALVES E TANGERINI
Nelson Marzullo Tangerini
A centenária Dercy Gonçalves trabalhou em duas peças de Nestor Tangerini: em Quem será o tutu [de parceria com De Chocolat] e na terceira montagem de No tabuleiro da baiana [sem Jardel Jércolis].
É o que provam os documentos que estão em minha casa: cartazes das peças, programas, esquetes manuscritos e anotações de meu pai.
Na primeira montagem da peça No tabuleiro da baiana, em 1936, a atriz Dinorah Marzullo, minha tia, esposa do grande ator português Manuel Pêra e mãe das atrizes Marília e Sandra Pêra, fazia parte do elenco.
Na segunda montagem, em 1937, com sucesso absoluto em São Paulo, Grande Otelo e Déo Maia eram estrelas do espetáculo.
A peça voltou a ser montada pela terceira vez. E, desta vez, sem a direção do empresário Jardel Jércolis. Dercy Gonçalves brilhava no palco do Teatro Pavilhão Floriano, interpretando a mulata Francelina.
Há anos venho tentando provar que os esquetes de No tabuleiro da baiana foram escritos por meu pai, Nestor Tangerini, e que Jardel era um empresário teatral – de grande peso, diga-se de passagem. A imprensa do Rio não me ouve, não quer me ouvir. Prefere continuar errando. Publicam que a peça era de Jardel Jércolis, o que me deixa revoltado.
No dia 20 de maio de 2005, um domingo, encontrei-me com Dercy na Feira Internacional do Livro, no Riocentro. Ela estava autografando seu livro biográfico, editado pela Universidade Estácio. Um livro, aliás, que contém erros, porque não cita Quem será o tatu e No tabuleiro da baiana. Parece mais um livro de afogadilho.
Estive na Universidade Estácio, tentei manter contato com o autor. Levei-lhes provas. Nenhuma atenção me deram.
Conhecidamente encrenqueiro e chato, levei os cartazes das duas peças para o dia da noite de autógrafos. Em dado momento, aproximei-me de Dercy e mostrei para todos os dois cartazes.
Dercy, espantada, perguntou-me:
- Você ainda tem isto?
Disse-lhe:
- Sim, sou filho de Nestor Tangerini e neto de Antônia Marzullo.
Imediatamente, Dercy me perguntou se eu era filho da Dinah ou da Dinorah.
Disse-lhe que era filho da Dinah.
E Dercy prosseguiu:
- Conheci seu pai. Fiquei chocada, quando ele perdeu o braço esquerdo naquele desastre de ônibus. Sua avó, Antônia Marzullo, era minha amiga. Jogávamos buraco na casa dela.
Perguntou sobre minha mãe e eu lhe disse que Dinah estava muito doente, muito mal, internada no Hospital Badin, na Tijuca, com Mal de Alzheimer.
- Dinah era uma mulher muito bonita – continuou a atriz - ; diz-lhe que estimo suas melhoras e que mandei um abraço.
Naquele instante, pedi à Dercry que autografasse os dois cartazes, o que Dercy fez prontamente.
Beijei-a, enquanto uma infinidade de máquinas nos fotografavam: Dercy, eu e os cartazes.
Não era – e não é – intenção minha aparecer ou virar notícia – como dizem alguns detratores. A minha intenção era – e é - conseguir um espaço para corrigir imprensa, jornalistas e biógrafos do teatro brasileiro.
Sou filho de Nestor Tangerini e, creio, tenho o direito de falar, de defender a obra e a memória de meu pai.
Após retirar-me, jornalistas me procuravam para prestar maiores informações a respeito dos dois cartazes e das duas peças.
Onde estão as fotos? As matérias foram publicadas?
Infelizmente, o livro biográfico de Dercy continua circulando sem qualquer referência a Nestor Tangerini, a Quem será o tutu e No tabuleiro da baiana e a Antônia Marzullo, sua amiga, levando informações erradas a futuras gerações.
Farto material do teatro brasileiro, principalmente do Teatro de Revista, está em minha casa.
Gostaria que a imprensa brasileira fosse menos arrogante e me procurasse para corrigirmos erros que não podem continuar acontecendo.
Nelson Marzullo Tangerini, 52 anos, é escritor, jornalista, fotógrafo, compositor e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É Acadêmico, Imortal, e ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini no Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ].
n.tangerini@uol.com.br, tangerini@uol.com.br, nmtangerini@yahoo.com.br