Sem sandálias
Edson Gonçalves Ferreira
Queria arrancar a roupa com São Francisco e sair por aí, pelado, totalmente despido da empáfia que lota as academias. Essa gente estudada demais é mais podre que aquele que pede esmolas nas ruas. Tenho nojo até de mim mesmo, porque fiz graduação, fiz pós-graduação e mestrado. Até hoje, contudo, acho que excelência tem a
Rosária, que lava minha roupa há anos. Pelo menos, ela não come chuchu e finge arrotar caviar.
Sem sandálias, queria andar pelo mundo a fora e, se possível, no tempo de Jesus. Despachado foi Ele, o poeta mais lírico do mundo com seu amor desmedido pela humanidade. Atualmente, muita gente só ama por conveniência. Toda união só é sacramentada se for abençoada pelos olhos amorosos de cada um do casal. O resto é pra sociedade ver. O amor é sentimento nobre que prova a majestade do ser humano. Não interdepende da benção de uma pessoa. Quem abençoa o amor é o próprio Amor.
Assim, lúcido, depois de horas de reunião acadêmica, escrevo esta crônica que, para alguns, pode parecer maluca. A vida não é tão racional, é? Se fosse, a gente saberia a hora do trânsito. Não estou falando de carro. Se você ler meu texto por cima, será como viver a vida só por viver. "Navegar é preciso, viver não é preciso".
A sensualidade da Natureza se reflete em todos, em todos os corpos e faz com que todos fiquem primaveris. O amor é a Natureza arrebentando-se em flor. O mundo começou assim. Deus o criou num rasgo de generosidade danada. Da mesma forma, amor, quero você iniciando o mundo comigo. Não precisamos do corpo, basta que nossa alma se una e, mesmo que nunca nos conheçamos fisicamente, estaremos juntos. De preferência, quero você de sandálias e sem amarras como o Pobre de Deus.
Divinópolis, 09.02.08