O amor dito pelo não dito

As palavras não dizem nada,

Estão cobertas de incertezas.

Já diziam os antigos filósofos

Que elas não dão conta da realidade.

(Sou, então, um mentiroso ambulante...)

Posso afirmar a alguém:

- Eu te amo! (por exemplo.)

Mas penso que o Amor é incomensurável...

Como podemos calcular a medida sentimental de um ser e classifica-la como AMOR ou outra coisa qualquer?

Impossível, mesmo porque não existe uma espécie de amorômetro, e o amor é abstrato.

E o que é “abstrato”?

Segundo certo dicionário: é o que se considera existente só no domínio das idéias e sem base material/ de compreensão difícil; obscuro, vago, abstruso...

Então, se o amor é abstrato, logo ele é indefinível.

Penso que a palavra AMOR não deveria existir.

Daí, meu caro leitor, você perguntaria:

- Como eu faria, então, para expressar à pessoa com quem tenho certa afinidade afetiva o meu gostar?

Responderia dizendo que se o amor existe – mesmo que sem auto-definição – e é abstrato, bastaria a esses dois corpos unidos pela afetividade, entregar-se à gigantesca realidade do mundo; O SILÊNCIO. Bastar-se ia ao silêncio encarregar-se de não dizer – posto que palavras sejam falhas humanas - e sim transmitir o âmago de tal sentimento, na própria finalidade existencial.

O amor está num olhar

Num toque

Na divisão de uma cama

Num abraço

Num laço de energia que liga dois corpos distantes

E que se chama saudade

O amor pode estar numa canção

Que faz lembrar a pessoa amada

Num pôr-do-sol

Na alvorada

Balançando a rede na varanda

Num ato, simplesmente...

O AMOR dito se desmancha no tempo, no vento e na irrealidade sonora ou pictórica da própria palavra.

O AMOR não dito se constrói na realidade que ultrapassa os cinco sentidos.

As palavras são cobertas de incertezas e inexatidão.

Se amares, não digas nada... Transmita apenas.

Pois será mais real.

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 08/02/2008
Reeditado em 08/02/2008
Código do texto: T851286