AS QUERMESSES
Os festejos da igreja Católica amambaiense vez ou outra ressurgem em minha mente e assim vou saboreando aqueles momentos trigueiros embalados pela magia de uma festa bem organizada pelos paroquianos, sempre abrilhantadas pelas músicas da orquesta de Billy Vaughn onde soavam acordes que marcaram uma época e, eu, saudoso, saio hoje pela lojas de Cds procurando aqueles músicas orquestradas que eram tocadas com grande ênfase pelo discotecário Arnaldo Sória que sempre estava presente dando sua contribuição como um dos mais assíduos paroquianos daquele tempo.
Lembro-me com saudade daqueles barracões construídos à base de madeira e uma boa parte coberta com folhas de coqueiros que eram trançadas e formavam uma cobertura natural e que produzia bem-estar para os freqüentadores do lugar, pois circulava um ar bem fresco pelo seu interior, produzindo também um cheiro de mato verde que até hoje assinala uma lembrança indelével que causa alvoroço em meu pensamento.
A festa começava bem cedo, logo após a missa ministrada pelo Padre Bonfilho, que na sua sabedoria sacerdotal sempre abordava sobre os fatos que circulavam no momento. As pessoas chegavam em bloco, cada um ia procurando o melhor lugar, em mesas bem limpas e bem cuidadas pelos organizadores. Logo a música parava e surgia os primeiros impulsos de euforia do leiloeiro oficial (Senhor Delson Machado) que com um frango assado às mãos abria o certame afirmando em alto e bom som: “Quem pagar mais leva, quem só der o lance e não cobrir o lance do adversário, só vai ficar com o cheiro e com a visão de quem come...” . Vinham os lances e os desafios eram iminentes. O leiloeiro que conhecia à todos os presentes apelava para seus pontos fracos e, assim, o desafiado para não ficar no prejuízo daquela afronta pitoresca, acabava por entusiasmar-se e ia cobrindo os lances subseqüentes até alcançar o teto máximo visualizado em tese pelo leiloeiro.
Eu, particularmente, no meu recalque de menino, ficava um tanto envergonhado pelas façanhas daquele leiloeiro, eis que não raramente meu pai subia até em cima das mesas para poder realçar ainda mais o desafio. Evidente que esse acanhamento era exclusivamente voltado para minha concepção da época, pois hoje só posso relembrar com orgulho das proezas daquele leiloeiro, já que em recente visita à Amambai muitos não se lembravam de mim, mas passei a ser respeitado e recebia elogios a partir do momento que alguém me apresentava como filho do leiloeiro da época.
As quermesses amambaienses tinham grande significado no meio social daquela cidade. Era ali, na simplicidade daquele ambiente, que eram encontradas as autoridades como o Prefeito Municipal, principalmente o nosso saudoso Pequeno Machado, que sempre dava o ar de sua graça. Ali compareciam juízes, promotores, fazendeiros, militares do Exército Brasileiro, médicos, advogados etc. Todas essas pessoas se sentiam inteiramente à vontade para desfrutar uma boa comida, uma boa cerveja, uma boa música e sobretudo da camaradagem de alguns paroquianos como o saudoso Antônio Japonês, dna. Dadi e muitos outros que faziam parte do contingente de pessoas que só pensavam no bem-estar dos trabalhos paraquianos.
Enfim, este momento nostálgico me leva a perguntar-me como pessoa ausente de minha cidade natal, se ainda hoje as festas paroquianas são tão animadas como antes? Infelizmente essa resposta só pode ser dada por quem ainda vive naquele torrão fronteiriço. Todavia, o que importa agora é que a nossa memória ainda festeja todos aqueles momentos de euforia que marcam até hoje, eis que qualquer um que viveu naquela época pode testemunhar os fatos que estou relatando. Foi nas quermesses que aprendi meus primeiros passos da dança. Foi nesse ambiente de fraternidade e de amor pelo próximo que construí meus primeiros passos no mundo social. Foi ouvindo os primeiros acordes daquelas músicas sublimes tocadas naqueles alto-falantes escondidos sob as palhoças que aprendi a apreciar a música clássica executada por grandes orqüestras. Foi naquele ambiente festeiro que ouvi pela primeira vez o conjunto “Filhos do Sol”, formado por músicos da cidade e que não deixavam nada a desejar se cotejados com outros conjuntos de renome que faziam sucesso na saudosa era da “Jovem Guarda”.
Oh! cidade tão bela das quermesses.
Rendo-me aos seus encantos mil.
Como uma parte deste nosso Brasil.
Lembrada em versos e prosas.
Como uma das mais formosas.
Embelezada pelas suas festas paroquiais.
Que talvez nem exitam mais.
Mas a lembrança é que vive.
Dentro dessa vida que tive.