NA BIFURCAÇÃO DA ESTRADA
Luiz Inácio Lula da Silva chega à presidência da República com mais de 60% dos votos válidos. O mesmo índice não foi o reflexo do resultado nos grandes centros urbanos, onde o percentual chegou a superar os 80%. Em Sabará, quebrou-se a barreira dos 70%, tendência que se refletiu desde o primeiro turno.
Com o seu rico acervo histórico-cultural, Sabará se transformou em efêmera referência, pelo resultado das últimas eleições municipais, quando o Prefeito Borges se reelegeu com mais de 90% dos votos válidos. Com esse fato construiu-se por aqui um Alcaide plenipotenciário, com ascendência ilimitada sobre os demais poderes e sobre as lideranças locais, que passaram a ser tratadas como subalternos inferiores e dependentes.
A vitória de Lula e Cia. no município, coloca em cheque a fórmula de fazer política utilizada pelo prefeito Borges. Com a trajetória de uma constante migração partidária que teve origem na ARENA dos militares, passando pelo PDS de Francelino Pereira e pelo PMDB de Newton Cardoso, até chegar ao PSB de Miguel Arraes (a cujo socialismo mistura a doutrina de Roberto Campos, forte ideólogo do regime militar), tem sido um algoz do pluralismo político a medida em que exige e impõe uma hegemônica subserviência da Câmara Municipal e governa sob os pilares do fisiologismo.
Dono da verdade não admite diálogo com outras forças políticas, preferindo impor o culto da personalidade e da hegemonia familiar como marca de sua administração. Os votos de Lula, a soma dos mais de 20.000 votos do eleitorado local dados à legenda petista para Deputado Federal, somados a outros tantos conseguidos por outras forças de oposição local, contrapõe-se aos pouco mais de 11.000 votos do todo poderoso Eliseu Resende, que veio pedir pousada com bolsa de ouro debaixo do sovaco, fez campanha na boleia de carro chapa branca, e significa uma resposta ao atual modelo de administração. Já de antes das eleições a população sabarense vem dando mostras de sua indignação, e de seu inconformismo com a contumácia na distribuição de lotes e materiais de construção a amigos e cabos eleitorais, limpeza e recolhimento de entulhos em imóveis particulares, a divisão em família das ações de governo e a tomada de decisões sem levar em conta os interesses da população, como é o caso do lixão do Fátima; nudez que começa a ser vista por olhos comuns.
Acostumado a ficar na muda esperando o passar da carruagem, aguardou até que Aécio superasse os 50% de intenção de votos do eleitorado para só então subir em seu palanque, depois de ter escalado seus acólitos, dentre eles o pai, para recepcionarem “Newtão” em praça pública. Embarcou na canoa de Ciro Gomes quando as pesquisas o indicavam como favorito. Agiu na moita com Itamar e Azeredo, na última eleição estadual, pois as pesquisas mostravam um certo equilíbrio entre os dois; não apareceu. Não moveu uma palha para Margarida e Garotinho, candidatos de seu partido. Preferiu Zezé Perrela e Eliseu, depois de determinar ao Padre de Gal. Carneiro que os excluíssem da “lista de inimigos do povo”, distribuída pela Diocese, da mesma forma como excluiu de última hora, o nome de Aécio Neves da relação dos Deputados “que nunca contribuíram com Sabará”. Preferiu Azeredo, dado pelas pesquisas como certo para o Senado, isso depois de uma promessa insincera de votos a Hélio Costa. Perdeu!
Em Sabará, ganhou Nilmário, Tilden e Lula, que não receberam o seu apoio. Na mesma esteira o vereador Argemiro Ramos, seu mais candente opositor, que sai da disputa, com mais de 11.000 votos só no município, sinalizando para a possibilidade de desmoronamento do castelo que pode acontecer a qualquer momento. Borges entretanto não crê nisso. Confiante em que novas lideranças seriam incapazes de sobrepor-lhe, faz ouvidos de mercador. Procurado para integrar o Comitê Suprapartidário de Apoiamento a Lula no segundo turno, simplesmente não deu confiança. Não percebeu o momento histórico pelo qual passa o país. Mergulhado em silêncio continua preferindo o som das trepadeiras que rastejam sobre os muros da província, acalentadas pela sinfonia dos campos, já rarefeitos de seus bajuladores, cuja debandada se espera para breve.
Resta agora às forças progressistas locais, principalmente ao PT, agirem com sabedoria e cautela em cima da vitória obtida nas últimas eleições. É preciso que essas forças sejam capazes de se articularem sem dileções a fim de garantirem a vitória de um governo democrático e comprometido com o povo, colocando fim à prática do nepotismo, do fisiologismo, do mandonismo, da traição, da pusilanimidade da discriminação, e do medo, num encadeamento que cega e conduz ao despautério as aspirações de um povo inocente e conformado. Hora de começar é agora, enquanto a esperança ainda viceja sobre o medo. Não se pode mais errar.