Orgulho II

Genésio cresceu na roça, filho de migrantes de Goiás e tinha as mãos calejadas, os dedos tortos, de pele dura. Acordava cedo, dormia cedo, comia o que a natureza fornecia à sua família e, além dos pais, tinha mais oito irmãos. Não bebia, fumava cigarro de palha e fumo de corda e gostava de rabada. Não comia cabrito, porque cabrito não era criatura para matar até que crescesse.

Foi à escola porque uma professora rica resolveu fazer uma boa ação e abrir uma escolinha perto do sítio onde morava e trabalhava. Era um aluno regular, não era excelente em nenhuma matéria específica, porque gostava mesmo de terra e de bichos. Mas ia à escola mesmo assim, não deixava de fazer as tarefas e até lia um livrinho de vez em quando.

A vida era simples assim. Nada de conforto, de regalias, mas a convivência familiar incutiu em Genésio valores que não desprezava e sentia-se feliz desde moleque. Não precisava de outra coisa além de terra, cana e bichos.

Os pais de Genésio estavam pescando juntos para um jantar especial porque um dos irmãos ia desposar sua princesa no dia seguinte, quando a mãe viu uma aranha descomunal, se assustou e bateu a cabeça numa pedra. O pai, no desespero em ajudar a esposa, pulou na água sem ver que a profundidade não era suficiente. Quebrou as duas pernas com o impacto e sentiu um pedaço de madeira atravessar-lhe o peito. Como toda gente simples, achou que não precisava de médico e, duas semanas depois, morreu de infecção e de tristeza, pois não sabia viver sem sua companheira de pesca.

Quando Genésio soube que tinha perdido os pais num período de duas semanas um do outro, subiu no pé de tamarindo e não desceu por três dias, matutando o que deveria fazer com a terra, visto que era o mais velho dos irmãos, e chorando sofregamente, porque era muito apegado à mãe.

Aprendeu na escola a usar a régua e os números. Mediu o terreno e dividiu-o em nove partes iguais. Cada irmão cuidava da sua terra, mas um sempre ajudava o outro e o almoço aos domingos era preparado pelas três irmãs e saboreado por todos à mesma mesa.

Quando Genésio completou 34 anos, descobriu que crescia um tipo de abóbora muito da esquisita em sua horta. Era grande, sem sementes, muito saborosa e, pasmem, lilás. Ele achou que era a única abóbora que cresceria assim, talvez por alguma substância química que tivesse atingido a horta ou algum passarinho que tivesse "plantado" uma semente de flor que se misturou à de abóbora, mas, para o espanto de Genésio, todas as abóboras cresciam iguais àquela.

A fama da plantação do nosso rapaz logo de espalhou e ele foi convidado para uma palestra sobre o cultivo do legume na Austrália, além de vender sua produção para uma rede de restaurantes japoneses que preparavam um prato exótico e caríssimo com a abóbora lilás. Resultado: enriqueceu.

Continua....