A sensibilidade oculta das canetas.
As canetas estão próximas no porta-lápis esperando para serem pegas por alguém. A agonia de cada uma delas é monótona, totalmente imperceptível aos olhos e à sensibilidade humana.
Eu percebo a competição entre elas. É tão devagar como os ponteiros das horas de um relógio. Entendo-as perfeitamente, incondicionalmente. Pego uma por uma, oferecendo um apreço especial.
Elas agradecem em uma perfeita sintonia com o papel, transmito minha energia, emoção àquela caneta com que estou a escrever. E ela repassa tudo isso ao papel, branco, lúcido, sábio.
A caneta aceita ser tocada, usada. Parece contente com a minha escolha. Ela está se saindo muito bem: parabéns e obrigada. O papel recebe minhas palavras, sem reclamar.
A caneta parece estar cansada agora. Sua tinta, seu metafórico sangue escarlate está menos intenso, mais ralo, mais falho.
Tudo bem, minha pobre e digna serviçal. Vais descansar, tranqüilize-se! Agora pego outra de suas companheiras do porta-lápis e faço o mesmo: corrente de emoções eu-caneta-papel-leitor. O trabalho está feito. Deixo-a novamente com suas amigas em meu quarto.
Boa noite, durmam em paz.