UM CAMUNDONGO NA MINHA SALA .....(OU A GRANDE BATALHA !)

 

 

   Naquele sábado chovia muito e portanto eu, minha mulher e meus filhos decidimos ficar em casa. Alugaríamos um bom filme de comédia, teríamos pipoca doce, salgada e suco natural de manga . Para um fim de semana que começava com muita chuva, não teria programa melhor.

   Acomodados nos sofás da sala, luz do abajour acesa, duas tigelas grandes de pipoca e um jarro de suco, distraídos esperávamos o inicio do filme. Tive a impressão de ter visto uma coisa pequena, com algo fino na ponta parecendo uma cauda que atravessou numa velocidade espantosa o espaço entre a porta da sala e o sofá em que estávamos sentados.

   Inconscientemente desejei que aquilo fosse apenas uma lagartixa, mas entre um punhado e outro de pipoca, sinceramente fiquei na dúvida. O que sorrateiramente e de forma acelerada passou na minha frente era um pouco maior que uma lagartixa comum. Não queria admitir mas e se fosse um camundongo ?

   A dúvida me deixara inquieto e como o filme já tinha começado, aos poucos fui esquecendo a possível presença indesejável daquele bichinho. Acontece que ele não parecia interessado em ficar escondido, tanto é que de novo cruzou a sala na direção contrária, em altíssima velocidade.

   Só que desta vez meu filho percebeu aquele vulto que na maior disparada tinha atravessado a sala de uma ponta a outra. As crianças, às vezes falam certas coisas nas horas mais impróprias e naquele momento, meu filho deveria ter ficado calado e não ter dito que tinha visto um rato na nossa sala.

   A gritaria foi geral. O filme foi interrompido, pipocas voaram para todos os lados e todas as luzes da casa foram acesas. Na minha opinião, o melhor que poderíamos fazer era irmos para os quartos, trancar bem as portas e no dia seguinte chamar alguém que pudesse expulsar o camundongo da nossa casa.

   Minha mulher não concordou e exigiu (quando uma mulher exige, o melhor a fazer é baixar a cabeça e concordar) que eu mesmo providenciasse a expulsão daquele bicho nojento. Tentei argumentar mas não houve jeito. A responsabilidade de proporcionar a todos uma noite tranquila e livre de mais sustos seria minha.

   A primeira coisa que fiz foi arrastar os sofás. Na hora me pareceu uma boa idéia mas na prática não deu em nada. Vi claramente quando o camundongo foi para a cozinha.

   Peguei então uma vassoura (como se com uma vassoura eu pudesse enfrentar e vencer aquele monstro) e na ponta dos pés fui atrás do invasor. Olhei cuidadosamente em baixo da mesa e de rabo-de-olho pude vê-lo em cima da pia.

   Fingi que não o tinha visto e tentei ser mais esperto que ele. Levantei-me rápido, fiz um giro de noventa graus e dei uma vassourada na pia com toda força. Em primeiro lugar, ao dar um giro com a vassoura na mão derrubei a fruteira que se espatifou no chão com um grande barulho. Em segundo lugar, ao bater com a vassoura na pia, não só não atingi o animalzinho, como também consegui quebra-la (a vassoura) em dois lugares.

   Minha mulher e meus filhos continuavam trancados no quarto o que significava que aquela batalha era só minha. Na falta de uma vassoura, peguei uma pá de lixo e muito zangado fui a caça do bicho. Fiquei alguns minutos em silêncio, imóvel no meio da sala, tentando escutar a respiração do animalzinho (olha só que tolice... escutar a respiração de um rato... ). Não demorou muito tempo ele reapareceu e desta vez pulou para um dos sofás e de lá para a mesinha de centro.

   Parecia que ele estava brincando comigo e como não estava para brincadeiras e cada vez mais irritado, joguei a pá de lixo na sua direção com toda a minha força. Lógico que errei o alvo, mas acertei em cheio uma jarra de louça que estava em cima da mesa de centro, que ficou completamente destruída. O chato (e eu teria que dar muitas explicações) é que a jarra tinha sido presente da minha sogra.

   Nunca é demais lembrar que minha mulher e meus filhos continuavam trancados no quarto, o que me obrigava a continuar a batalha absolutamente sozinho. Por poucos instantes fiquei em silêncio e como se estivesse zombando da minha lerdeza o rato voltou para a cozinha, parou bem no meio dela e ficou imóvel me olhando.

   Tive a impressão de ter visto nele um breve sorriso irônico como se estivesse dizendo : “Sabe quando vai me pegar ? Nunca!!!”. Aquilo aumentou ainda mais minha raiva. Olhei para o lado e a primeira coisa que vi foi uma panela de pressão nova que minha mulher tinha comprado recentemente. Nem pensei em me preocupar se ela estava cheia ou não.

   Peguei a panela e joguei na direção do debochado invasor. Ocorreram duas coisas : a primeira é que a panela ainda tinha um pouco do feijão servido no jantar e segundo, não acertei o rato. Então , tive a brilhante idéia de abrir a porta da cozinha. Cuidadosamente fui até lá e deixei a porta aberta.

   O rato não estava à vista. Voltei a sala e não percebi que uma das tijelas de pipoca ainda estava no chão, bem no meu caminho. Resultado, novo estrago. Consegui quebrar mais um utensílio da minha casa, tudo por causa de um camundongo. E aí ele reapareceu.

   Saiu de trás de um dos sofás correu novamente para a cozinha, parou bem debaixo de uma cadeira e continuou me olhando, certamente rindo e zombando da minha desastrada tentativa de captura. Minha raiva era tanta que dando um grito típico de um samurai (aprendi, assistindo um filme japonês) corri na direção do bicho que percebendo que a porta da cozinha estava aberta desapareceu no quintal.

   Eu estava exausto, não sei se pelo esforço de correr atrás de um camundongo ou pela frustração de não tê-lo atingido. Algum tempo depois, minha mulher percebendo o silêncio abriu cuidadosamente a porta do quarto e saiu.

   Sem dizer nada passou pela sala e veio para cozinha. Minha casa parecia um campo de batalha mas eu saíra vencedor. Consegui expulsar o rato, falei prá minha mulher com um certo ar de convencimento.

   Ela olhou bem nos meus olhos, observou novamente cada detalhe em volta (a sala e a cozinha estavam irreconhecíveis) e ironicamente perguntou-me se tudo aquilo tinha acontecido por culpa de um simples camundongo.

   Criticou-me por ter exagerado na dose, aproveitando para também me acusar de ter quebrado de propósito a tal jarra (acho que era herança de família), além de ter deixado bem claro que queria uma nova panela de pressão no dia seguinte bem cedo...

 

 

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(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 06/02/2008
Reeditado em 07/01/2013
Código do texto: T848410
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