Somos um rio de almas
Brunelleschi inventou o efeito da perspectiva. Cosino Médici patrocinou o acontecimento, mas a sensibilidade não venceu. E sem perspectiva garanto que o mau humor merece tratamento poético. Uma cena mais ao fundo.
Hoje vou correr assunto. Despertar para longe do mundo errado. Vou sair por aí com a palavra nesse rio das almas.
Corro os dias nesse estado de abandono para ensinar ao meu enigma a escola dos fundamentos essenciais. Observando o próprio mistério para aquecer o mercado de capitais dos livros e dos objetos. Trocar esse mercado por uma expressão de ternura. Amar a sensação de coisa intransmissível porque o esplendor ninguém esquece.
Remonto um núcleo de sentido e de coisa sobre a lenta dissolução das horas. Não há nada. O signo resume a paz que pretende manter o seu prestígio, numa luta rápida, acaba dando lugar aos novos argumentos. Novos acúmulos formais. Nada é unitário ou absoluto. Os costumes não se exercem e tudo varia como um fogo visual da luz que é típica.
A euforia dos sons nasce mais do que os seixos pré-montados dos desejos diurnos. O rápido prazer perpétuo se move e retoma ou mesmo desaparece. O que isto? É o vento brincando com a alma. Antes de Brunelleschi ter aberto a porta da perspectiva para o mundo exterior a natureza era concebida empiricamente. Tudo é matéria de reformulação subjetiva num sistema de proporções exóticas. Quer imitar a densidade psicológica de um sonho sem juízo para expressar o drama.
Há mais espaço do que tempo no universo e nele nos diluímos numa simples questão de estilo. Cato um devaneio em revelações imitativas. Recorrente. Atribuo ao meu passeio o combate contínuo dessa ausência completa de lirismo. Nesse pequeno teatro mental abandono o truque do ilusório: são tesselas reunidas ao sabor da busca pelo encanto.
Não existem aparições e sim espetáculos. O oceano cabe em nossos olhos. Saio do asfalto para molhar os sapatos no mar.