Casulo
Sonhou que era uma borboleta.
Acordou leve e foi olhar suas asas no espelho. Eram lindas, de um azul altamente celeste. Pegou uma roupa fresca e foi olhar na janela, mas estava um dia tão nublado. Não era justo desfilar suas asas novinhas em folha num dia como esses. Esperaria um dia mais receptivo, com o sol bem amarelinho e o céu bem azul.
No segundo dia foi à janela, e o céu nublado tinha virado uma tempestade daquelas. No noticiário da TV, a previsão do tempo falava em três dias seguidos de chuva. Poxa, que injustiça, logo na semana em que apresentaria ao mundo suas novas asas? Esperaria, então, o final de semana. Domingo. No clube. Seria perfeito.
O Domingo chegou com um céu limpo, azul e claro. O sol nasceu forte, forte até demais. Desse jeito, com esse sol tão castigante era melhor nem sair de casa ou queimaria a ponta das suas asas e elas eram tão lindas para serem queimadas assim. Deixaria para amanhã. É. De segunda feira não iria passar. Ia abrir suas asas para o mundo.
Mas, quando a segunda feira olhou pela janela, nossa borboleta achou que não era suficientemente bom. As pessoas passavam correndo, apressadas, estressadas. Se saísse à rua nessa situação ninguém iria reparar nas suas asas.
E assim ficou esperando seu dia perfeito.
Sonhou que era uma larva.
Acordou e não conseguiu sair de seu casulo.