NATUREZA DESLUBRANTE

O carnaval é época das pessoas aproveitarem daquilo que gostam de fazer quando estão de folga, por isso, há aqueles que se preparam o ano inteiro para no dia “h” colocar uma fantasia e sair com sua escola exibindo sua energia. Há também aqueles que procuram se afastar o máximo possível das folias do Rei Momo e se embrenham nos mais diversos recantos deste País, cuja beleza e encantos são os mais diversos possíveis, já que somos privilegiados por vivermos numa Nação genuinamente natural, pois nosso Édem – embora sofrido – ainda nos reserva lugares paradisíacos, capazes de chamar a atenção do mais cético dos homens, já que impossível não apreciar uma linda cachoeira ou um rio de águas cristalinas daqueles que formam um espelho d´agua que reflete suas entranhas, mostrando seus peixes, suas pedras, seu leito enbranquiçado pela pureza da sua água.

Faço parte dessa segunda categoria. Sou meio avesso à multidão ou à conglomerado onde se reúnam pessoas sem compromissos que só pensam em extrapalar os limites, através de comportamentos extremos que beiram à loucura e à insensatez. Já fui assim, quando era mais novo e penso que isso faz parte de uma fase da vida. Hoje só quero tranqüilidade e procuro me aconchegar nos recantos que se escondem nos entremeios dos cerrados ou das matas, sempre recortados por rios enebriantes que geram lazer e paz para aqueles que curtem a natureza.

Por isso quero compartilhar meus quatro dias de afastamento da urbe, por ter me escondido num lugar indescritível com simples palavras, mas que quando lembrado faz ressurgir de dentro de mim uma onda de emoção, naquelas que nascem da volúpia de nosso ser, percorrendo as veias, chegando ao coração e sendo pulsada com maior intensidade, até chegar àquele nó na garganta, fazendo surgir apenas um suspiro daqueles bem longo, como se quizéssemos que o ar também fizesse parte de todas as nossas emoções.

Quem conhece a região de Bonito-MS sabe que ali está reunido um número acentuado de lugares que foram desenhados pela mãe natureza, através do Rio Formoso, que não poderia ter outro nome, em face da sua exuberante beleza natural, por estar marcado através das águas cristalinas, das suas cascatas, da sua flora e fauna, reservando ao comtemplador as mais diversas opções para lazer.

Temos um grupo em comum, que segundo um colega espiritualista está reunido por afinidades, tendo em vista a convergência de princípios e de gosto semelhante pelas mesmas opções de lazer. Assim marchamos para o Municipio de Bonito-MS, num contingente de cerca de 50 pessoas, aglomerando forças no sentido de darmos um colorido sem igual para o Campíng do “Gordo”, um recanto rústico, com quiosques construídos à base da madeira conhecida como “Taquara” e com porções de gramados verdes bem próprios para armar barracas das mais diversas espécies e cores. Assim, depois de um tralhalho preliminar, armamos uma grande tenda que iria abrigar à quase todas as barracas. Ali dentro ficou estabelecido o “Quarte General”, onde todos se reuniam no final do dia para um grande sarau abrilhantado por uma dupla de cantores já conhecidos em nosso Estado como Tangará e Zé Viola e eu – como amador - acompanhando na percussão com minha timba com vassorinha. Na última noite não faltou um ensaio de carnaval com algumas marchinhas de nosso tempo - com tempo determinado – que foi logo interrompido pelo acolhimento de lindas canções compatíveis com a natureza e com o ambiente nativo.

O encanto maior estava estabelecido há alguns metros de nosso acampamento, onde se via um gramado verde recepcionado com coqueiros baixos, com folhas exuberantes, estabelecendo resquícios de sombras nos raios intensos de sol que insistiam de acampanhar nosso encanto, pois dias antes a chuva caiu intensamente e prometia esconder o Astro Rei. Mas até nosso glorioso São Pedro não quis romper nosso encanto e reservou-nos aqueles dias maravilhos com sol de 'brigadeiro'. Nosso Astro Rei lá no alto apreciava nosso delicioso momento de desfrute de tudo aquilo que estava presente e inteiramente ao dispor de nossos olhos.

Do lado de cá do rio Formoso as crianças brincavam extasiadamente com seus pulos acrobáticos sobre suas águas. Ali existia uma pequena ponte (uma pinguela) de onde as crianças exibiam suas infatis brincadeiras pulando de braços abertos e dando a famosa “barrigada” na água e logo abaixo as Piraputangas recepcionavam seus mergulhos fazendo marabalismos como se quizessem se exibir mostrando para as crianças suas proezas dentro do seu habitat.

Nas cercanias, um número expressivo de pessoas que se deliciavam embaixo de árvores explêndias que se erguiam para o céu buscando o sol e nos trazendo a abençoada sombra. Ali também estava nossa confraria, jogando um truco ou desfrutando de uma deliciosa cervejinha aos acordes de nossa dupla de violeiros, ou escutando as piadas contempôneas de nosso glorioso colega Medina que exibia seus contos e sua mestria (ficctícia) com as mulheres, as quais não convenciam nem mesmo as crianças que o contestavam a cada lorota. Vez ou outra, um voleizinho improvisado pelo nosso glorioso “Magaiver” (Figueiredo), onde se via muita algazarra e pouco técnica, mas expressivas gargalhadas por aqueles que apreciavam a contenda, ante as 'carregadas' e tropeços de alguns colegas que estavam embalados pelo teor etílico.

Do lado de lá uma mata inebriante onde os pássaros e bichos exibiam sua singeleza natural; eram os macacos que comiam as frutas de uma árvore e deixavam cair as sementes que eram emediatamente degustadas pelas Piraputangas e pelos Lambaris num frenético vai-e-vem. Nesse mesmo lado haviam várias trilhas na mata, que levavam a várias opções de nado ou de mergulho, mas denotando muita atenção por parte de quem estivesse apto a desfrutar desse lazer, pois o rio reserva um curso oscilante e de uma fundura preocupante chegando a possuir em determinado trecho mais de 07 metros, o que causava apreensão aos pais, pois as crianças, no seu espírito aventureiro, desejavam incursões nas regiões mais profundas, exigindo a cautela com a utilização de bóias etc. Mas nada que preocupasse a ponto de sairmos de nosso sonho relaxamento natural, já que tínhamos convicção de que nossa união era mais forte que o perigo e sabíamos que ali imperava a regra do “todos por todos” e assim o zelo e a prontidão estava sendo presentes na ação de cada confrade, embora isso não fosse necessário pois os pais não tiravam os olhos de seus rebentos.

Enfim, em nosso íntimo o encanto se desfez mais depressa do que percebíamos, pois no decorrer das horas ninguém via o tempo passar, mas a realidade nos depertava para a hora de levantarmos acampamento e assim o encanto foi adiado para uma próxiam oportunidade, onde todos se voltam para si mesmo e prometem retornar muito em breve.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 06/02/2008
Reeditado em 07/02/2008
Código do texto: T847958