Quarta-feira, cinzas ao vento

O trânsito ainda está bom, os meninos ainda dormem, as mulheres sentem o corpo dolorido, os farreantes estão pelas calçadas com o que restou da fantasia. Bêbados, vagabundos, trabalhadores, prostitutas, donas de casa, crianças, meninos de rua, vadios, vadias, honestos, ladrões, todos recolhem as cinzas do cinza da cidade que amanheceu cinza.

Sampa vive mais um dia de trabalho depois do carnaval.

A cidade anda mais limpa, sem outdoors, sem poluição visual, só aquela, a da fumaça ainda é a mesma e continua.

Sampa volta seus olhos para o dia que será longo, mesmo que começando mais tarde. Cansativo, mesmo que sem trabalhar demais. Com um trânsito esquisito, mesmo que os motoqueiros estejam em menor número e as crianças de férias. Sampa conta seu dinheiro antes dos bancos abrirem: pulsa vida por sobre a alegoria.

Sampa volta seus olhos aos homens, que apesar das cinzas da quarta-feira, despem a fantasia e voltam a usar suas máscaras.