O Meu Primeiro Emprego
Depois de ser aprendiz de alfaiate, sapateiro e barbeiro, todos arrumados por meu pai, em março de 1946, com 11 anos e 4 meses eu resolvi ir tentar ganhar algum dinheiro.
Além de não ganhar nada, eu não tinha a menor afinidade com aqueles ofícios anteriores.
Sem nada dizer em casa, sai cedo e cheio de otimismo. Fui em busca de um novo trabalho. Tomei o bonde número 1 da Vila Industrial, que passava na 13 de Maio, rua de maior comércio de Campinas.
Quando o bonde parou na Estação de trens eu desci, pois a Rua 13 começava ali. Fui logo me oferecendo para trabalhar em todas as Casas de comércio. Primeiro no Hotel Grigolet depois na frutaria do Capilé, no bar Laselva, na Casa Camponesa, no Hotel e bar Americano, no Hotel Suares, na Casa Neusa, e nada. Até que eu fui ao Bar e Café do Senhor José Augusto Coelho.
Apresentei-me a ele e lhe disse com muita convicção: “Quero trabalhar aqui”. O senhor Coelho era um português forte, muito despachado, isto é, sem papas na língua, e me perguntou:..”O que tu sabes fazeire..”. Eu lhe disse: “Nada”. Então ele voltou-se para mim e disse:..”Tu não sabes fazeire nada e queres trabalhar aqui?.”. E eu lhe disse: “Se o senhor me der uma oportunidade eu aprendo”. Ele olhou para mim com um ar paternal e falou: “.. Vais atrás daquela geladeira apanhar um avental e lavar aquelas xícaras e os pires que estão na pia.”.
E assim comecei nova vida. Como era bar, café, sorveteria e restaurante, o movimento era grande. Assim que deu uma folga ele me chamou num reservado para conversarmos melhor. Perguntou-me o nome e se eu tinha pai e mãe. Como eu dei um sinal afirmativo ele pediu que o meu pai fosse lá para tratar o quanto eu iria ganhar.
Eu disse ao Senhor Coelho que eu precisaria ir para casa almoçar, mas que voltaria à tarde para trabalhar. E que só daria a notícia ao meu pai à noite, pois meus pais pensavam que eu ainda estava na barbearia.
Voltei ao bar às 12:00 horas e fui aprender a fazer café, que era muito fácil, pois bastava saber a quantidade de pó para por no coador, e água fervendo nunca faltava visto existirem duas grandes chaleiras no fogão “vulcão” de seis bocas, tocado a carvão.
Era grande o movimento, pois eram gastos seis quilos de café São Joaquim, somente vendendo em xícaras, por dia.
Sai do bar às 17:00 horas depois de explicar ao Senhor José Coelho que a minha família ficaria preocupada com a minha demora. Então ele pôs a mão no meu ombro e disse: “..Gostei de ti, pois tens cara de honesto, e me lembras muito de minha infância, em Portugal..”. “Digas aos teus pais que entras as 7:00 e sairás quando o movimento permitire. Tu almoçarás e jantaras aqui. E se ficar tarde mando um carro de praça te levaire..”
Dei a noticia a noite em casa e pedi ao meu pai que fosse lá depois que ele saísse da Cia. Mogiana, à tarde, para tratar com o Senhor Coelho quanto eu iria ganhar. E assim começou mais uma etapa da minha infância risonha e franca.