GOL DE TANGERINI

GOL DE NESTOR TANGERINI!

Nelson Marzullo Tangerini

Os esquetes das peças No tabuleiro da baiana, Estupenda!, Magnífica!, Na dura! e Gol!, sucesso em Buenos Aires, Argentina, foram escritos por Nestor Tangerini para a Companhia Teatral Jardel Jércolis, pai de Jardel Filho. Mas os periódicos cariocas insistem em dizer que essas peças foram escritas por Jércolis. E não querem se corrigir. Reina o pedantismo em nossa imprensa.

Inúmeras vezes enviei cópia de material de meu arquivo para jornalistas e biógrafos do Teatro Nacional. Inclusive, meu livro, ainda inédito. Mesmo assim, continuam afirmando que essas peças são de Jardel Jércolis.

Conhecidamente turrão, Nestor Tangerini jamais voltava atrás em suas decisões. Desligou-se da Cia. Teatral Jardel Jércolis por motivos pessoais. Uma trova, porém, escrita pelo teatrólogo, pode, talvez, revelar sua decepção com o empresário teatral, até hoje considerado autor de suas peças:

“J. J.

É figura da ribalta,

escritor, maestro... em suma:

é tudo, nada lhe falta

para não ser coisa alguma”.

Em 1966, quando as chuvas, por um longo período, castigaram o Rio de Janeiro, muita coisa se perdeu em nossa casa. A água destruiu textos manuscritos e datilografados de Nestor Tangerini. Ou dávamos atenção à sua obra, ou dávamos atenção ao autor, que morreria de câncer no dia 30 de janeiro daquele ano, aos 71 anos. Era uma muita catástrofe para todos nós. Muitos esquetes desapareceram.

O cronista que vos escreve tinha 9 anos e mal podia entender tudo o que acontecia em sua casa e no Rio.

Só mais tarde, quando entrei para a Faculdade de Comunicação – Jornalismo Hélio Alonso, é que pude avaliar tudo o que meu pai havia deixado e que fora guardado por minha mãe, Dinah Marzullo Tangerini, ex-atriz da Companhia Teatral Alda Garrido.

Foi Dinah, inclusive, quem salvou textos teatrais, sonetos, trovas, crônicas, letras de músicas e caricaturas cubistas, quando passou pela cabeça de Nestor Tangerini queimar tudo.

No início de dezembro de 2007, estive no Arquivo Nacional, no centro do Rio, na esperança de encontrar os esquetes perdidos. Em 1937, não havia registro. Valia o carimbo da Censura Federal. O autor sempre deixava uma cópia do trabalho para ser avaliado pela Censura. Tenho alguns trabalhos de Nestor Tangerini carimbados com “Censurado” ou “Liberado”. A Censura Federal acabou. Todo o material foi enviado para o Arquivo Nacional. E qual não foi minha surpresa? Todos os esquetes desapareceram. Não foram encontrados. E também não foram encontrados na SBAT [Sociedade Brasileira de Autores Teatrais], da qual meu pai era sócio.

O que fazer? Vou à polícia e dou queixa de roubo? Quem desviou ou surrupiou os esquetes das peças citadas acima?

Parece que a intenção era apagar o nome de Nestor Tangerini da História do Teatro Brasileiro.

Minha tia, Dinorah Marzullo, mãe das atrizes e cantoras Marília e Sandra Pêra, trabalhou em duas dessas peças: em No tabuleiro da baiana e em Gol! Em Gol!, trabalhou com Oscarito e Grande Otelo.

Venho pedindo a colaboração de parentes e amigos no sentido de salvar a obra e a memória de meu pai. Tenho recebido críticas e elogios. Meus irmãos admiram o meu trabalho. Muitos amigos abraçaram a causa, arregaçaram as mangas e vêm lutando comigo, como Adalberto Barboza, compositor, Vilnei Kohls, cineasta, e Fábio Siqueira do Amaral, escritor.

No dia 24 de agosto de 2007, a convite de Carlos Morais, tomei posse no Clube dos Escritores Piracicaba, ocupando a Cadeira 073 – Nestor Tangerini e me tornando, assim, um Acadêmico, um Imortal. Mas isto ainda não me deu visibilidade. Ainda continuo lutando para que o nome e a obra de Nestor Tangerini, paulista de Piracicaba, sejam reconhecidos e respeitados.

Se Flávio Marinho, autor de um livro Oscarito, e Sérgio Cabral, autor de um livro sobre Grande Otelo, tivessem lido o meu livro Perfil Quase Perdido, uma biografia para Nestor Tangerini, não teriam cometido erros. E eu enviei-lhes meu livro. Não me escreveram ou telefonaram me agradecendo. Estão numa torre de marfim. Por que procurar Nelson Marzullo Tangerini?

Por isto guardo com carinho todas as cartas que Carlos Drummond de Andrade, o poeta maior, me enviou, na década de 80, quando lhe escrevia, por exemplo, pedindo informação sobre poema e poesia.

Nelson Marzullo Tangerini, 52 anos, é escritor, jornalista, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba, onde ocupa a Cadeira 073 - Cadeira Nestor Tangerini.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 05/02/2008
Código do texto: T847275