OSCARITO E TANGERINI
OSCARITO, NESTOR TANGERINI
E O TEATRO DE REVISTA
Nelson Marzullo Tangerini
O jornalista Flávio Marinho acaba de lançar o belíssimo livro Oscarito – O riso e o siso, Editora Record, 336 páginas, R$ 45.
É emocionante encontrar, nas páginas do livro, o nome de meu pai, Nestor Tangerini, mesmo que Flávio tenha errado seu nome; escreveu Tangerine - com e.
Há anos luto pela obra e pela memória de meu pai, hoje esquecido até mesmo pela própria família.
Digo isto, porque minha tia, Dinorah Marzullo trabalhou em três peças de Tangerini – No tabuleiro da baiana (1936), em Gol!, (Companhia Teatral Jardel Jércolis, (1937 – e não 1935) e em Está sobrando mulher (Teatro Zaquia Jorge, Madureira, 1958) – e jamais citou o nome do cunhado em entrevistas e depoimentos. Minhas primas, Marília e Sandra Pêra, inclusive, jamais falam sobre o tio.
Oscarito trabalhou na peça Ganhando Tempo... (1932) (ver cartão da peça), em Goela de Pato e em Gol! (com Grande Otelo e Dinorah Marzullo). Gol! agradou tanto, que a Companhia foi convidada para levar a peça para Buenos Aires, Argentina, onde fez muito sucesso. A prova é um belíssimo comentário do jornal La Nación, o qual guardo até hoje.
Dinorah não viajou para a terra de Gardel porque tinha 18 anos e sua mãe, Antônia Marzullo, minha avó, também atriz, não lhe deu permissão para que viajasse com a Companhia Jardel Jércolis.
Dinorah me contou que havia um futebol em cena e que ela era uma das jogadoras. O juiz era Oscarito. Jardel pôs uma rede no palco para que a bola não fosse para a platéia, porque a platéia nunca a devolvia.
Mário Lago e Custódio Mesquita apostaram que Dinorah faria um gol. Ela o fez. E a dupla ganhou a aposta.
Este detalhe não entrou no livro de Flávio Marinho, que não fez qualquer comentário sobre Gol!
Tenho um livro pronto sobre o Teatro de Revista no Brasil – Perfil quase perdido – Uma biografia para Nestor Tangerini – e não consigo publicá-lo. É um livro que fala sobre minha família (Antônia Marzullo, Nestor Tangerini, Dinah Marzullo Tangerini, Dinorah Marzullo Pêra, Manuel Pêra, Abel Pêra, Nirton Tangerini, Nirson Tangerini, Nelson Tangerini, Marília Pêra, Sandra Pêra, Maurício Marzullo, entre outros) e dos amigos de Nestor Tangerini (Antônio Lago, Oscarito, Dercy Gonçalves, Aracy Cortes, Grande Otelo, Mesquitinha, Benedito Lacerda, Aldo Cabral, Ataulfo Alves, Walter Dávila, Henriqueta Brieba, Humberto Catalano, Ronaldo Lupo, entre outros).
Enviei este livro – ainda inédito – para Flávio Marinho e não obtive qualquer resposta – se recebeu ou não. Provavelmente, nem leu.
No Brasil, só um grupo seleto, um clubinho fechado, pode publicar livros.
Vários livros e várias matérias já foram escritas sobre o Teatro de Revista e sobre estrelas do Teatro de Revista e o nome de Nestor Tangerini sempre fica de fora.
Preciso publicar este livro; preciso impedir que passem informações erradas a futuras gerações; preciso salvar a obra e a memória de um homem que era deficiente físico e visual: não tinha a vista direita e o braço esquerdo, perdidos em dois acidentes.
Ainda assim, Nestor Tangerini foi teatrólogo, escritor, jornalista, cronista, compositor, caricaturista (de estilo cubista) e professor de Língua Portuguesa. Jamais se entregou à falta de sorte.
A imprensa do Rio, por exemplo, insiste em dizer que as peças No tabuleiro da baiana, Estupenda!, Magnífica!, Na dura! e Gol! são de Jardel Jércolis, quando sabemos que Jardel era empresário teatral e todos os esquetes eram de Nestor Tangerini. As provas estão em minha casa. São textos manuscritos de Nestor Tangerini, que nasceu em Piracicaba, SP, a 23 de julho de 1895, e faleceu, aos 71 anos, no Rio de Janeiro, a 30 de janeiro de 1966.
Parodio uma canção de Milton Nascimento e vos digo que ainda espero que a justiça reine em meu país.
Inclusive, ainda espero ajuda de minha família.
Nelson Marzullo Tangerini, 52 anos, é escritor, jornalista, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba, onde ocupa a Cadeira 073 - Nestor Tangerini.
n.tangerini@uol.com.br / tangerini@oi.com.br
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