"PROMETO NÃO TE PROMETER"...

Os relacionamentos afetivos estão, cada vez mais, precisando de reparos e cuidados, tendo em vista o desgaste que a evolução (ou involução) dos tempos proporciona.

Mudam as épocas e as palavras acompanham a velocidade dos avanços da tecnologia que o ser humano desenvolve.

Hoje, se emprega e se usa o verbo “ficar” como arauto da transitoriedade. E cumpre dizer que: ficar significa permanecer.

Pois, os jovens estão “ficando”, eventualmente. Estão em busca da própria identidade, de espaços adaptados a sua realidade temporal, sem outro compromisso do que o de “aproveitar o momento”. Parecem mais com uma esquadrilha que perdeu o contato com a torre de controle e voa para onde o vento sopra com o piloto automático desligado. Aterrissar? Nem pensar! Então, o que poderá acontecer quando o combustível acabar? Desastres à vista.

Talvez, a minha geração – a geração do medo, da repressão, do proibido - tenha ensinado a essa juventude que nadar na superfície é preferível a mergulhar fundo.

Atualmente, ocorre o inverso. Em nome do “é proibido proibir”, quase tudo é permitido. Inclusive, o não se envolver.

Observo que os adultos descompromissados (particularmente, os descasados) aderem, também, a novidade e se apropriam da idéia, empunhando essa bandeira da falta de comprometimento, tipo: cada um na sua.

Nada contra. Cada um na sua casa, se encontrando de vez em quando para curtir o agradável, é opção pessoal de parceiros que afetivamente se unem, mas não misturam escovas de dente e nem partilham problemas. Querem do bom e do melhor e basta. Conviver no dia-a-dia é assunto descartado e descartável. A distância é a alma do relacionamento, para alguns.

É óbvio que não tenho a pretensão de fazer a apologia da perpetuidade, até porque, envolvimento não é eletrodoméstico que tem garantia de fábrica com tempo estipulado em contrato de compra e venda. Também, não traz consigo bula e, assim, a posologia se adapta a necessidade de cada um, que dá o que tem e recebe o que merece.

Envolver-se é comprometer-se consigo mesmo e com a vida, sem medo e sem trava de segurança. É atitude de gente grande, crescida, tenha a idade que tiver, tenha sofrido, ou não, desencantos. É saber que só é livre quem é capaz de sair de seus limites e mergulhar por inteiro no oceano do outro.

Tal postura exige coerência e risco. Aliás, viver é um risco. Envolver-se e comprometer-se é arriscado mesmo, de verdade.

Reafirmo que não sou contra, mas também não sou a favor do: “Eu prometo não te prometer nada. Nem te amar pra sempre, nem te trair nunca. Nem não te deixar jamais. Tuas coisas continuam tuas e as minhas, minhas...”. (Geraldo E. de Souza)

Tenho cá as minhas dúvidas sobre a consistência dessas colocações.

E explico a razão, baseada nos prós e nos contras. De um lado, a monotonia e a rotina são evitadas nas relações eventuais. De outro, fica faltando a companhia e a partilha do permanente..

Então, o dilema é de simples solução. Basta escolher a qualidade de vida que se quer. Viver encontros esporádicos ou compartilhar uma convivência constante. Camas separadas ou teto comum?

Será que a decisão de não ter o mesmo endereço aproxima ou afasta, enfraquece a união ou fortalece a relação?

Incógnitas que só terão respostas concretas nas próximas gerações. Por ora, toda a conclusão será apressada e fruto de mera especulação. Ou não.