Uma boa ação

Ontem, cedo, oito e meia (pra quem está de forga), subi ou desci pra Federal a fim de pegar à minha querida irmã a sua confirmação de matrícula. Boa ação? Qual! São só negócios...

Mais tarde, por volta de onze horas [pra quem esperou e esperou somente (?!) a tar da confirmação], desceu ( - Agora, sim!) do coletivo um rapaz cego (...ou “deficiente visual”, a abster-me do “rapaz”, pobrezinho...). E o que percebo é um quadro surrealíssimo: Após cutucar, sem querer, alguns pés (sur)reais de (ci)vis (que pareceu molestar), caíram dois frutos em forma de gota de minh'árvore infante, ou seja, eu o conduzi. Boa ação? Nada! Uma obrigação, diria...

Depois, um não tão agradável diálogo ( - Por quê?! Leiam, leiam...):

- Cê vai pra onde?

- Pro C.A. de Geografia. Tá indo pra lá também?

- Não.

(Pausa por me haver, quem sabe, ele estranhado:)

- Tu é daqui?

- Sou. Por quê? Tenho sotaque ( - Se falei rapidamente, um avexado gauchês; se chiei, um carioca e se fui besta, brasiliense... Se bem que todos haverão de convir que o homem não me via, não é verdade?! Mas pra minha surpresa, independia a minha apurada mistura lingüística:)?!

- Não, é que é muito difícil ver aqui alguém fazer isso...

(Pausa pra imediata reflexão de agora e por ter emudecido aquele instante:)

- O que foi?

- Nada (de fato).

(Ou vergonha tremenda - Ó Planalto Central; ó Rio de Janeiro e sul grandense... Porém, não pousamos por aí e aqui:)

- Qual o teu curso?

- Inglês.

- Começo, meio, fim?

- Final quase (de mim)! E... ( - Pensei em lascar francamente um “você”, mas por almejar ficar por aqui mesmo...:) tu?

- Geografia.

(Daí em diante, o que me conta o compadre é de um absurdo maior:)

- “Diabo que cego quer estudando?!” “Rapaz, faz Teologia!”

- (Triplo suicídio:) Teu professor?!?

- Pois é! E Doutor em Economia...

- Mas e tu, é daqui também (- Um falar um pouquinho arrastado denunciava: Bahia ou Sul do Estado.)?

- Não, Sul do Estado. Tenho quatro irmãos aqui, meus pais ficaram, e...

Em seguida, praticamente às doze, já de volta à parada e após ter sugerido pra que tacasse um processo no digníssimo Doutor em questão, o que fiz, morto o assunto?! Cantarolei, abstraindo-me (como de costume). Boa ação? O que é isso, companheiro?! Hobbie...

(Acho até que, por tal razão, pegou o mardito o primeiro ônibus que lhe veio:)

- Que ônibus é aquele ( - E escutou de longe ...ainda mais!)? Amarelão?!

- Não, o verde.

- Serve!

Eu o guiei até o coletivo, nós, por fim, nos despedimos e assim foi.

Hm... Mas afinal, a boa ação de ontem... qual terá sido?! Oxente! Nenhuma: Vício, respeito ao próximo, favorzinho...

Já a de hoje, e sempre e em suma é - Juro (a mim) que não queria ver, mas... - infelizmente a denúncia de, em sua maioria, aqui haver uma gente abertamente avessa à Educação (no amplo sentir do vocábulo).

E o que me leva, neste caso, a levantar ainda a bandeira do Estado é que os demais, em peso, ainda padecem dos mesmos Doutores, Juízes, Médicos, Desembargadores, Políticos...

a 24 de Março

do incrível ano de 2007