OCEANAIR - OS NOVOS GOLPISTAS DO BRASIL

Brasília, Capital Federal, 28 de janeiro de 2008, começa aqui uma história de terror, medo, desespero e irresponsabilidade. Como sempre faço várias vezes por ano, me desloco para o Distrito Federal, para resolver assuntos pessoais e alheios; compro um bilhete aéreo que me dá direito a ir e voltar nas datas e horários previstos; reservo um hotel e começo a planejar cada segundo de minha estada na cidade que abriga o Poder do Brasil. Brasília não é, e jamais será, uma cidade agradável para se permanecer um segundo sequer, a mais do que o planejado, portanto, todos, sem exceção, viajam pra lá e já ficam de olho na volta.

Também é unânime que poucas pessoas sentem prazer em voar; existe sim a necessidade da maioria em chegar e sair muito rápido a um local, seja a trabalho, seja por turismo, seja por simples distração mental (disponível apenas para os excêntricos). Para se ter uma idéia, uma viagem de Belo Horizonte para Brasília, que pode ser feita de carro, por uma boa rodovia, não se gasta menos do que sete horas, isso se o veículo for bom; já de ônibus, o trajeto não é feito em menos de onze horas; de avião, a distancia é encurtada com o tempo de 55 minutos em um jato de grande porte, comum na maioria das companhias aéreas brasileiras, menos pela Oceanair.

Eu sou um daqueles que jamais teve medo de voar, sejam em jatos modernos, helicópteros, ou seja, em monomotores mais antigos; mas sempre tive necessidade de fazê-lo pela razão já citada; poucas vezes fiquei receoso e jamais, uma circunstância, por mais sinóptica que fosse, me fez desistir de entrar num avião para concluir uma etapa de qualquer viagem, e afirmo que foram centenas de vezes as viagens que fiz pelo Brasil e pelo mundo; são horas e horas sentadas numa poltrona desconfortável, espremida entre duas ou três outras, tendo que disputar um encosto para braço ou me contorcer para afivelar um cinto e ainda, por dezenas de vezes, tendo que comer barrinha de cereal com amendoim e suco de pêssego.

Entre 2001 e 2002, quando eu ainda morava em Curitiba, ouvi falar da Oceanair; uma empresa nova que tinha aeronaves pequenas e praticava tarifas muito alta, mas que permitia decolar e pousar em cidades nada convencionais como Montes Claros (MG), Cascavel (PR) e Sorocaba (SP). Desde aquela época, todas as vezes que eu precisei voar para uma cidade atendida pela Oceanair, sempre ocorria algo que me afastava da empresa e de seus aviões e é fato, que eu jamais voei com eles e jamais precisei voar, cotar preços ou precisar de suas rotas exclusivas, até o dia 28 de janeiro de 2008, e aí, começa uma história que eu quero apagar.

De ultima hora, precisei ir a Brasília, juntamente com um amigo, resolver os problemas que o Governo nos impõe a executar. Eu sabia que era véspera de carnaval, mas presumi que o elo “momesco” entre as duas cidades era nulo; Brasília e Belo Horizonte não estão na rota da folia; eu também sabia que 99% dos Deputados, Senadores, Ministros e seus asseclas, já haviam retornado aos seus estados de origem, portanto, qualquer tumulto que eu enfrentasse na volta no arcaico, desconfortável e quase desumano Aeroporto Internacional de Brasília, seria normal; ledo engano o meu!

Pedi a minha agente de viagem que buscasse tarifas baratas para minha viagem e ela me retornou com uma opção muito boa, do ponto de vista de preço; voar Gol na ida e Oceanair na volta. Embora o horário da volta não fosse tão convencional para quem está hospedado em hotel, 18h55min, eu preferi voar pela Oceanair até mesmo para poder dizer que era a minha primeira vez. Quanto ao hotel, eu já sou cliente e peço uma tolerância além de até 12h00min como é de costume.

Dia 28 de janeiro, chegamos ao aeroporto, eu e meu amigo e lá estava formada a primeira confusão. Os funcionários da empresa Oceanair não se entendiam para dizer a que horas a aeronave pousaria em Brasília, muito menos o horário de partida. Apenas diziam que “estava um pouco atrasado” e que a empresa estava trabalhando para a resolução do problema. 22:45min foi o horário que a aeronave decolou, chegando em Belo Horizonte às 23:55min. Entre o horário do “check in” e a decolagem, muitas surpresas e desentendimentos. Nenhum funcionário queria prestar as informações corretas, muito menos arriscar alguma previsão de partida. Após quase quatro horas de tensa espera, eis que é informado que a aeronave seria da falida BRA e que o vôo seria para o Rio de Janeiro com escala em Belo Horizonte. Eu já não estava no aeroporto; senti-me mal e fui aconselhado por um médico a retornar ao hotel.

Após estar calmo, pedi a minha agente de viagem que remarcasse a passagem para o outro dia, no mesmo horário, pois a Oceanair só possui este vôo de Brasília para Belo Horizonte. No da seguinte, 29 de janeiro, resolvi chegar ao JK uma hora mais cedo do que o exigido para “check in” e antes mesmo de proceder com o despacho da bagagem, perguntei a atendente se estava tudo normal; a moça educada me disse estar 100% normal e que meu vôo sairia no horário previsto. Despachei mina mala e fui passear no Aero Shopping, quando para minha surpresa, avistei no painel que o meu vôo estava atrasado, com previsão para decolar às 22:00h. Imediatamente retornei ao balcão e perguntei a moça se aquilo era uma piada. Em menos de 5 minutos ela havia me dito que estava tudo normal e naquele momento um atraso de quase 4 horas por previsão.

Para encurtar a história, fora muitos desencontros entre as explicações dadas pelos funcionários da Oceanair, todas desencontradas e estapafúrdias, nenhum gesto de carinho por quem precisava estar em outra cidade, muito menos algum gesto que minimizasse a angustia de quem estava ali.

JUIZADO ESPECIAL DO AEROPORTO

Ligado a Justiça Federal e com fama de resolver o problema no ato, o Juizado Especial do Aeroporto de Brasília me informou que só poderia adotar alguma medida jurídica após as 22:55h, passadas as quatro horas determinadas pela ANAC, mas a moça reiterou que eles só estavam abertos até as 20:00h, portanto, nada eles podiam fazer naquele momento. A moça do atendimento do JEF chegou a dizer que aquela era uma prática comum. Quando a companhia prevê que o vôo não vai sair no horário, eles publicam no painel um horário próximo do limite legal para deixar o passageiro vulnerável e impotente.

O INFERNO

Aeroporto lotado com lojas e lanchonetes começando a fechar e nada do vôo 6151 da Oceanair. Após as 22:00h, sendo que eu estava há 5 horas esperando um vôo que não chegaria, tendo que me deslocar entre o saguão e sala de embarque (funcionários da Oceanair me aconselharam a permanecer na minúscula sala de embarque por causa de uma possível manobra da empresa para substituição do vôo e segundo ele, somente de lá eu conseguiria ouvir).

Na sala de embarque, uma outra equipe da companhia me informou que a tripulação que faria o meu vôo só chegaria a Brasília depois das 21:40h e a aeronave do vôo 6151 havia partido de Brasília as 15:50h com destino a João Pessoa, Fortaleza e São Luis. Somente após este trajeto ela retornaria ao Distrito Federal para dar continuidade em seu trajeto seguinte, ou seja, o meu destino. Por mais doloroso que possa parecer, foram estes funcionários, os que ficam na sala do inferno, quer dizer, embarque, que me prestaram as mais plausíveis informações.

A sala de embarque que a Oceanair conduz seus clientes para as aeronaves fica no piso inferior do aeroporto. O ar condicionado é deficiente, a lanchonete é inútil e os banheiros são imundos. O local é uma espécie de purgatório do aeroporto, reservado para manobras de companhias aéreas tradicionais e para empresas de pequeno e médio porte, com pouco fluxo de passageiros. Retornei ao balcão da Oceanair e exigi que retirassem minha bagagem para que eu pudesse sair daquelas trevas o quanto antes.

O CÉU

Pela segunda vez, tive que chamar um táxi para me levar de volta ao hotel, comer algo decente, tomar um banho e repousar numa cama, para enfrentar mais um dia de martírio com a Oceanair, afinal de contas, recordem-se que o ÚNICO VÔO DA COMPANHIA PARA MINAS GERAIS, partindo de Brasília, era aquele, de 18:55h; ou eu remarcava o bilhete ou compraria um de uma empresa séria. Uma operação desta natureza em Brasília custa caro, mesmo estando eu resguardado pela personificação jurídica que havia por trás daquela viagem.

Já no hotel, resolvi esquecer o vôo da Oceanair e comprar um bilhete para o primeiro vôo de Brasília a Belo Horizonte, pela Gol, que mesmo com atraso de 65 min e tendo que comer barrinha de cereal com amendoim e suco de pêssego, pousou em Confins hoje, 31 de janeiro de 2008, na mais perfeita paz, me fazendo voltar para a tranqüilidade de meu lar.

A DICA

Se isso ocorreu com você ou com alguém que você conheça, não demore a litigar em juízo, pedindo ressarcimento de todas as suas despesas, comprovadas ou não, inclusive se houver outros prejuízos que possam ser provados por meios técnicos (documentos), os inclua no pedido formal por via judicial, para que empresas desonestas e nada sérias como a Oceanair, comecem a sentir na pele o sabor da perda. Se todos fizessem o mesmo, no mínimo, eles teriam a hombridade de contratar uma equipe maior e mais empenhada e comprar aeronaves modernas, afinal de contas, a empresa que deseja crescer com honestidade e respeito pelo seu cliente, faria isso!

Os dados completos da empresa para litígios e notificações: OCEANAIR LINHAS AÉREAS LTDA. CNPJ/MF nº. 02.575.829/0001-48 – Estabelecida na Avenida Washington Luis, 7059 – Campo Belo – São Paulo – SP – CEP: 04.627-006.

Quanta saudade eu sinto dos Electras II que faziam divinamente e pontualmente a Ponte Aérea entre Rio e São Paulo; quanta saudade dos vôos da Vasp, Rio Sul, Varig, Nordeste e Trans Brasil, que atrasavam no máximo uma hora e ficávamos todos reclamando nos aeroportos; mal sabíamos que aquilo era um presente dos Deuses em comparação ao que vemos hoje.

Somos servidos por tantas siglas (Anac, Infraero, Ministério da Defesa, JEC, JEF...bla, bla, bla) e nenhuma destas serve para por ordem neste absurdo, nesta aberração, que se tornou a aviação civil brasileira. Eu fiquei pensando passageiros, menos providos do que eu, que precisam dormir nos aeroportos sujos e frios, muitas delas voando pela primeira vez para rever parentes distantes; que não podem pagar um hotel ou voltar de táxi; que tiveram o dinheiro de suas passagens, subtraídos criminosamente por companhias como a Oceanair, tendo de pagar R$ 8,00 (oito reais) por uma coxinha de frango e R$ 4,50 (quatro reais e cinqüenta centavos) por um refrigerante em lata, enquanto aguardam seus vôos por horas e até dias. Será que o Ministro da Defesa Nelson Jobim, que já foi homem de justiça e o Presidente Lula, que já foi pobre um dia, pensa nisso?

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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