Com o amor não se brinca


Depois de dirigir por mais de uma hora por uma estrada escura e estreita de terra socada, finalmente cheguei no sítio...
Já passava da meia noite quando parei o carro diante do imenso portão estilo Jurassic Park e buzinei consecutivamente para que me ouvissem e viessem abri-lo.
Ao perceber que ninguém estava me ouvindo, apanhei o celular e liguei para um amigo que estava lá dentro.
Pedi-lhe que viesse ao meu encontro...
Enquanto esperava, pude ver alguns morcegos que sobrevoaram o carro e seguiram estrada adiante desaparecendo na escuridão. Morri de medo, mas também, uma casa no pé da Serra do Mar não era de se esperar muitas flores, não é mesmo, pensei!?
Dei uma olhada ao redor e vi uma casa aqui, outra ali, todas estavam fechadas e escuras, notei então, que a única com gente era esta, o barulho que vinha do interior era intenso, ouviam-se vozes e risadas altas, misturando-se ao som do rádio ligado.
Ao ir entrando com o carro por um caminho estreito, enfeitado por flores em sua margem, fui observando os detalhes como quem está fazendo o reconhecimento do terreno onde se está pisando.
Ao voltear à imensa casa, estacionei o carro atrás de outros e fiquei por alguns instantes observando o ambiente.
Logo mais à minha frente, havia um grupo de jovens...
os rapazes estavam de shorts sem camiseta, as moças estavam de biquíni, em volta a uma pequena fogueira, onde dançavam e cantavam próxima à edícula que já estava com a churrasqueira acesa.
A lua estava deslumbrante, a sua luminosidade refletida na água em tons azulados e prateados, deixando a piscina ainda mais convidativa, nela havia um casal se abraçando e se beijando apaixonadamente.
Todos estavam bem animados! Todos estavam comendo e bebendo! Pareciam estar em uma grande comemoração.
De repente, a minha observação foi interrompida pelo André, o rapaz que me abriu o portão, ele havia me convidado para passar ali o final de semana. Ele abriu a porta do carro dizendo em voz alta: - Ainda está ai Dani!? - Vamos menina, junte-se a nós, estamos todos entre amigos!
Segurou-me a mão e conduziu-me eufórico para junto dos outros dizendo aos berros: - Aí pessoal, a Dani chegou!
Os gritos de alegria e aplausos eram de ensurdecer! Senti-me bem-vinda de imediato, e logo estava com o meu copo nas mãos. A música continuava e todos falavam ao mesmo tempo, e assim se mantiveram por um longo tempo.
De repente, veio uma musica lenta, ouvi gritos de aprovação!
Vi casais se formando, senti uma mão tomar-me pela cintura e levar-me como quem leva uma boneca leve de pano.
No ritmo de dois para lá e dois para cá, os passos eram suaves como a brisa fresca daquela deliciosa noite.
Era ele, o rapaz do portão, o meu amigo, abraçando a mim, com ternura!
Ele me olhava a fundo como quem queria enxergar a minha alma.
O brilho ofuscante de suas pupilas me seduziu arrepiando-me a espinha, senti leves calafrios que terminavam em meu ventre.
Os nossos rostos ficaram tão próximos que o beijo foi inevitável! Foi um beijo doce e terno e ao mesmo tempo ardente.
Senti um aperto aproximando ainda mais os nossos corpos,  sentir o corpo dele trêmulo e a sua respiração deliciosamente ofegante. Um calor inesperado subiu-me à face ao sentir o seu falo ereto! A música e o beijo inesperado me surpreenderam naquele momento em que me deixei levar por ele. Deixei beijar-me... Deixei levar-me pelo imenso vazio que eu sentia naquele momento. Há pouco tempo eu havia terminado um romance, deixando partir o meu grande amor.
O meu coração estava ferido e só!
Por dentro, eu estava tão triste e desacreditada da tal felicidade, que permiti sonhar e, quando a música parou, deixei levar-me...

Fizemos amor entre as flores do jardim sob a lua cheia, ao ar livre, ouvi confissões de amor das quais eu não sabia...
Que vacilo o meu!
Como eu, ele também sofria por amor, um amor contido, e longe de se alcançar. E ele sabia. Mas arriscou. E eu, cedi, momentaneamente, mas cedi o impossível, a esperança...

Depois do erro consumado, fiquei tão triste que a dor me fez chorar... ele era meu amigo, e eu não poderia amá-lo! Eu não poderia enganá-lo, pois o meu coração ainda pertencia a outro.

Pela manhã, despedi-me e fui embora sem olhar para trás.
Uni a solidão da estrada à minha e segui em frente!

Finalmente entendi que com o coração não se brinca, e muito menos, com os sentimentos alheios quando não há a reciprocidade no amor!