Comida de Cachorro

Eu e Fagundes fomos almoçar na Churrascaria Gaúcha em Curitiba. Era sistema rodízio, como a maioria das churrascarias de gaúchos. Fagundes, muito entusiasmado, disse:

- “As carnes daqui são as melhores da cidade e é tudo com fartura você vai ver, hoje vamos tirar a barriga da miséria e só comer carnes, nada de arroz e feijão, falou, enquanto empurrava o prato de pão e de maionese para o lado, nada disso”.

Fagundes, já estava ansioso por comer as carnes, quando surgiu num dos corredores do salão uma fila de garçons, cada um com um tipo de carne aproximando-se das mesas.

“Vai lombinho, vai... vai linguicinha, vai picanha, vai... assim por diante. Nós já nem tinhamos tempo para saborear toda aquela quantidade de carne, cada uma diferente da outra. Mas os garçons não paravam de trazer os espetos oferecendo deliciosas carnes.

- Já não agüento mais nada, disse Fagundes.

- Eu também, retruquei.

Fagundes deu uma olhada para mim e eu para Fagundes, num mútuo entendimento.

Os garçons continuavam passando oferecendo carnes. Fagundes, calmamente, pegou um prato limpo mandando o garçom colocar as carnes naquele prato, enquanto terminavam de comer as outras carnes que já estavam esfriando. Mas não era nada disso, o que nós estávamos planejando na verdade, era preparar o lanche da noite.

O prato já estava cheio de diversos tipos de carnes fatiadas. Fagundes pegou uma colher de arroz e espalhou sobre as carnes no prato, depois jogou um pouco de maionese misturada com arroz em cima das carnes, para dar a impressão de que eram restos, murmurando: “É o nosso jantar.”

Chamaram o garçom para pagar a conta e aproveitaram para pedir a ele que embrulhasse aqueles restos para levarem para o cachorro. O garçom abaixou a cabeça concordando e levou “os restos” do prato.

Demos uma olhada de soslaio na direção da cozinha, vendo o gerente olhando para o prato de carnes destinado ao “cachorro”. De vez em quando dava uma olhada em direção á mesa e falava alguma coisa com o garçom, com cara de deboche e de poucos amigos. Cruzamos os olhares com um sorriso recíproco, a diferença era que o nosso era em sinal de agradecimento, enquanto que o do gerente era em sinal de... sei lá o quê.

Chegou o garçom trazendo um pacote muito mal feito, colocando-o sobre a mesa. Nós já estávamos meio desconfiados de que alguma coisa não ia bem. Por mera curiosidade abrimos o embrulho e, com surpresa notamos logo que não era o nosso “resto”. Eram ossos de frango, de costela misturados com arroz e feijão, restos de prato, mesmo! Olhamos um para o outro e vimos que o garçom continuava em pé em frente da nossa mesa, nos olhando com cara de gozação. Eu e Fagundes não achamos graça da brincadeira e falamos quase ao mesmo tempo: - Esse não é o nosso resto.

- Certo, senhores, mas não é para o cachorro?

Demos uma olhada para a copa quando vimos o gerente rindo da nossa cara. Franzimos a cara para mostrar que não achamos nenhuma graça e empurramos o embrulho de comida na barriga do garçom.

- _Devolva ao seu gerente. Diga-lhe que leve isso para o cachorro dele, porque o nosso não come restos de estranhos.

- Quanto à nota de despesas, pode retirar a gorjeta do garçom, só pagaremos o que consumimos. Nada mais além disso.

- ATÉ NUNCA MAIS.

Luiz Pádua
Enviado por Luiz Pádua em 31/01/2008
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