SEDUZIDOS POR DEUS

Nossos primeiros pais viviam no paraíso, não conheciam a dor, o sofrimento e não estavam sujeitos à morte, porque não conheciam o pecado. “Foi por causa do pecado que a morte se estabeleceu no mundo” ( Rm 6,23).

O pecado trouxe consigo toda espécie de dor e sofrimento, cuja conseqüência é a morte. Trouxe consigo todo tipo de perversão e lixo espiritual, bloqueando os canais de comunicação entre Deus e entre o homem e Deus.

O homem vivia em estado de graça e não conhecia limites. Tudo era um horizonte aberto, um céu ao alcance da mão. Mas o demônio, também chamado de serpente, disse à mulher: "É verdade que não podes comer de tudo que há no jardim?" A mulher respondeu: "Podemos comer os frutos das árvores do jardim, mas a que abre a inteligência, não podemos comer, porque se comermos morreremos" (Gn 3,1-3). “Oh, não! Disse a serpente: Não morrerás, mas serás como deuses” (Gn 3,4).

O homem mesmo divinizado pela graça de Deus, não é Deus. Somos como que uma jóia revestida de ouro, mas não somos o ouro, somos um espírito revestido de luz, mas não somos a luz. A grande cilada do demônio foi estimular no homem a manifestação do orgulho, o desejo de ser Deus. E por querer ser Deus, Adão e Eva acolheram a sugestão da serpente e fizeram o que ela lhes sugeriu.

O primeiro pecado a entrar no mundo foi o orgulho (Eclo 10,15) e poderia ser chamado de pecado do orgulho, mas como entrou logo no princípio da criação, o chamamos de original. É também original, não só porque vem da origem de nossos primeiros pais, mas por ter dado origem a todos os outros pecados.

O desejo de ser além do que verdadeiramente somos ultrapassa os limites da simples vaidade e remete ao orgulho. Isso ocorre quando a criatura não se contenta em ser obra da criação divina, mas quer ser criador. Na verdade, o homem nada cria, apenas utiliza-se de elementos pré-existentes para transformar uma coisa em outra.

Deus não impôs restrição a nenhum fruto do Paraíso, apenas delimitou o terreno, indicado a partir de onde o campo está minado. Como uma placa que se lê: "Cuidado, perigo!" Mas, Eva deu ouvidos ao demônio e obedeceu a ele, e conseqüentemente pôs-se em desobediência a Deus, pisando em campo minado.

Qual teria sido a sugestão de pecado oferecida pelo demônio ao homem? Teria o demônio sugerido a Adão e Eva que se submetessem a ele, porque queria ser adorado como Deus? Se a Jesus que é Deus, o demônio ofereceu todos os reinos da terra, para que Jesus prostrando-se a seus pés o adorasse ( Lc 4,5-7), não teria o “Nada” sugerido que nossos primeiros pais o adorassem como deus?

Quantas vezes rejeitamos o “Tudo “ e acolhemos o “Nada” ? Quantas vezes temos adorado o que não é Deus.

Somente Deus é digno de adoração. Teria o demônio dito a Adão e Eva: "Se prostrados a meus pés me adorardes, sereis como deuses!"

O escritor sagrado diz que no final da tarde Deus vinha passear no jardim. Vinha encontrar-se com a obra-prima de suas mãos.Vinha encontrar-se com o homem, para ensinar o homem a encontrar-se com Deu. Mas enquanto o Senhor Deus passeava no jardim, o homem e sua mulher esconderam-se da face de Deus (Gn 3,8). Adão e Eva se esconderam de Deus com vergonha da nudez de seus pecado, agora expostos e revelados, pelo orgulho - o desejo de ser Deus e não apenas criatura! Por causa de seus pecados, sentiram-se como se estivessem nus, porque já não mais revestidos da graça de Deus, mas cobertos de orgulho, vergonha de ser criatura e desejo de ser Deus.

Deus colocou no coração do homem os preceitos da lei, depois deu por escrito os dez mandamentos, para que o homem sempre se recordasse desses preceitos. (Irineu de Lião).

Que são os preceitos da lei de Deus senão, medidas preventivas contra o mal? Mas o inimigo de Deus também conhece os preceitos da lei, por isso, faz tudo para que o homem não os cumpra. Sendo anjos, embora decaídos, sabem que as trevas os esperam e querem aumentar o contingente de condenados, para lhes fazerem companhia. Por isso, Deus impôs limite ao homem, não para limitar a ação do homem, mas para limitar a ação do demônio no homem.

O pecado tem em si mesmo um atrativo, se não houvesse nele atrativo algum ninguém pecaria. O inimigo lança bombas de pensamentos em nossa cabeça, induzindo-nos a pensar que nada é pecado. E não sendo pecado, não há sentimento de culpa nem de arrependimento. Depois ele traz de volta o sentimento de culpa, envolto numa camada de vergonha, para que não confessemos os pecados.

A luxúria, a vaidade, os vícios, a concupiscência da carne e todas as coisas que o mundo oferece parecem estar enraizadas em nossas vidas como se não fosse possível abandoná-las. "Mas quem conhece o alívio de abandonar o pecado, sabe quando ganhou em perdê-lo."(Cfe. Agostinho. Confissões).

Sabemos que ao desprezamos os prazeres mundanos, abrimos espaço para Deus em nosso coração e quando abrimos espaço para Deus em nosso coração, desprezamos os prazeres mundanos. Assim, se amamos a Deus, desprezamos o pecado e se amamos o pecado, desprezamos a Deus.

Deus não se compraz com a morte do pecador, mas com conversão do pecador ( Ez 33,11) e colabora com Sua graça, para que nos convertamos e retornemos a Ele.

“Se pela desobediência de Adão a condenação se estendeu a todos os homens, pela obediência de Jesus todos foram justificados”.(Rm 5,19).

Jesus nos libertou do pecado original e já não seremos mais julgados por este pecado, mas pelos pecados que venhamos a praticar.

O pecado nos é oferecido como um prato apetitoso, porque, se ele não apresentasse nenhum atrativo, ninguém pecaria. Ele vem, excita os desejos da carne e causa enorme enfermidade na alma.Vem empacotado numa embalagem de agradável aparência aos olhos. Não só o pecado, mas também o pai da mentira, o inimigo de Deus vem transvestido, como um lobo em pele de cordeiro.

Se o “Nada” se apresentasse asqueroso e fedido, como aprendemos outrora, na catequese infantil, ninguém se aproximaria dele. Mas ele vem com uma roupagem que esconde a negritude de suas más inclinações.

A maneira enganosa de se apresentar é que leva muitos desavisados a morder a isca. Imagine um lixo embalado em papel de presente, aparentemente sem dono, e colocado ao alcance de sua mão!Quem não cederia à tentação de tomá-lo para si? Imagine pior ainda: uma bomba numa carta fechada, postada em seu endereço!

O demônio é isso: O lixo em papel de presente e a bomba em carta fechada.

Há uma enormidade de lixo espiritual espalhada pelos ares e infelizmente, entra em muitas casas que abrem as janelas da televisão, para programas pornográficos e novelas cujo enredo é o adultério, homossexualismo, sexo explícitos, cenas de esoterismo e visão espírita de reencarnação. Isso porque, a reencarnação é um grande paradoxo da fé cristã na ressurreição e "se não há ressurreição dos mortos, é vã a nossa fé e nossa pregação", portanto, toda promessa de salvação, sem passar pela paixão, morte e ressurreição de Cristo, é lixo espiritual que deve ser recusado, porque "está determinado que o homem morre uma só vez e em seguida vem o julgamento" (Heb 9,27).

Mas há quem diga: "Essas coisas são realidades dos tempos modernos!" Pode ser que sejam, mas não precisam ser mostradas a quem não as conhecem, nem apreciadas por aqueles que mesmo conhecendo não praticam essas coisas.

Cuidado com as ciladas do demônio! Ele é astuto e mentiroso, foi assim, com mentira, que procedeu quando tentou nossos primeiros pais, e continua tentando até hoje.

O pecado é lixo espiritual mais maléfico do que lixo atômico. Enquanto o lixo atômico causa deformidades e morte biológica, o lixo espiritual fere a alma em sua imortalidade.É armadilha do demônio, semelhante àquela preparada pelos predadores para abocanharem suas presas.

Existe uma espécie de anêmona, chamada planta carnívora, que atrai insetos em virtude de suas grandes flores coloridas, mas ao penetrarem no seu interior os insetos são aprisionados e devorados. Assim acontece com o pecado, há nele um certo atrativo que encanta e também uma força terrível que aprisiona e mata.

Com o mesmo atrativo das anêmonas, nos são apresentadas literaturas que vão de encontra à fé na ressurreição de Jesus, e por ele, a nossa. A leitura entra pelos olhos, sensibilidade a mente e faz morada no coração. Ao ler, depositamos muitas informações no banco de dados que ficam à nossa disposição nos arquivos da memória. Assim, se lemos a Sagrada Escritura e livros de boa moral, agimos como se estivéssemos em oração, entramos em sintonia com Deus e regamos nossa alma com o orvalho do céu.Todavia, se lemos más obras, entramos em sintonia na freqüência dos demônios e a tentação vem despertar os desejos carnais, lançando-nos no pecado, de sorte que, quando lemos o que faz bem a nossa alma, criamos para nosso consumo um arquivo de imagens e fatos. Estes arquivos, quando consultados, vão liberar a sensação agradável de segurança e paz. Mas se o que lemos é um terror à nossa imaginação, a lembrança que nos vem é a sensação de insegurança e medo. Assim, se outrora pusemos nossos membros a serviço da impureza e do mal, por causa da fraqueza da carne? Agora ponhamos todo nosso corpo a serviço da justiça para chegar à santidade (Cf. Rm 5,19), porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito.(Gal 5,17)

“Ora, as obras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes... Ao contrário, o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança. Contra estas coisas não há lei. Pois os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com as paixões e concupiscência. Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito” ( Gal. 5,19-25)

“Filhinhos meus, isto vos escrevo para que não pequeis. Mas, se alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. (I Jo 2,1.) Ele é a expiação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (I João 2,2).

Não digo isso para seduzi-lo a esta ou aquela doutrina, mas, seduzi-lo para Deus.

LIMA, Adalberto Antônio de. A Luz do Mundo.