Série "Ditados na berlinda" 1: Tamanho é documento?
Perdi meu pen drive. Até há bem pouco tempo atrás eu não saberia dizer o que é isso, mas a necessidade me apresentou a ele, e desde então ele faz parte de minha vida de forma indissociável. Uma pecinha minúscula que, conectada no local certo do computador – a entrada USB, olhem só que erudição tecnológica! – funciona como um disco rígido (!) externo. Trocando em miúdos: plugamos, armazenamos (ou tiramos dele) um monte de coisas, sacamos e o levamos embora. Para outro computador, se quisermos.
Quando eu digo pequeno, é pequeno mesmo. O que perdi era uma minúscula caixinha de uns quatro centímetros de comprimento por menos de dois de largura, fininho como só ele. E com uma tampinha, o gracioso. Mas o pequeno tamanho, como em muitos outros assuntos polêmicos, não significa má performance: o danadinho podia armazenar um gigabite dentro dele. O que significa fotos de incontáveis viagens, ou uma bela biblioteca recheada de bons livros - e dos grossos. Ou ambos.
Vinha dirigindo pela marginal do Rio Pinheiros pensando nele com saudade (não necessariamente saudade do pequeno artefato tecnológico, mas do prazer que os textos que escrevi nos últimos seis anos e que estavam contidos dentro dele me proporcionavam) quando me deparo com a obra da Ponte Estaiada. Quem mora na cidade já deve ter visto, ou ao menos ouvido falar. “Estaiada” significa que a ponte é suspensa por estais, ou conjuntos de cabos de aço, sendo que esta ponte ainda tem a particularidade de ser curva; segundo consta, a única da América Latina. Tudo nela é grandioso: terá 144 estais, que consumirão 500 toneladas de cordoalha de aço - se a esticássemos a partir daqui, chegaria bem pertinho de Curitiba. O mastro central, que divide a ponte em duas partes de cerca de 900 metros cada, terá uma altura de 138 metros, apenas dez mais baixo que o ponto (construído) mais alto de São Paulo, que é o prédio do Banespa. E cerca de seis quarteirões ficarão flutuando, literalmente pendurados sobre o Rio Pinheiros.
Não dá para não notar, e também para não se admirar com a grandiosidade do conjunto. Uma obra de engenharia e tanto. Por conta de minha formação profissional, fico sempre pensando na quantidade de cálculos, plantas, desenhos, descrições técnicas e demais detalhes que são necessários para tal construção. Um mundo de documentos! Porém, na mesma hora, faço a associação que me espanta: todo este portentoso material gráfico e técnico caberia inteirinho no meu minúsculo pen drive...
Portanto, continuo na dúvida. Tamanho, afinal, é ou não é documento? A gigantesca ponte diz que sim, meu minúsculo pen drive diz que não. Eu, particularmente, acho que tudo é função do momento e do objetivo. Mais não digo; reservo-me o direito de abster-me de opinar sobre a grande (?) polêmica do tamanho. Prefiro, portanto, ficar em cima do muro - ou melhor, da ponte.