A MORTE DA BORBOLETA
Muitas vezes pensamos na morte como um ato triste, fúnebre – mas na verdade, pelo menos para nossa cultura, é (para outras culturas nem tanto). Outro dia pensei na morte da borboleta – claro que a partir de um simples fato.
Caminhava eu pelas ruas da cidade quando, ao cruzar uma avenida, a pobre da borboleta não desviou – entrou na contramão e eu também não consegui desviar da mesma. Apesar dos pesares: borboleta laranja, com pintas pretas saltitantes, fatal!
Fato simples, mas que leva a pensar – não pelo simples fato de pensar, mas pelo simples fato da vida não passar de segundos – claro que ao pé dessa eternidade que se consta aos olhos dos estudiosos do planeta.
A mesma – mesmo eu tentando desviar – chocou-se contra o meu automóvel e caiu a poucos metros. Caiu já sem vida. Doeu-me o fato dela cair. Olhei pelo retrovisor: lá estava ela estendida ao chão: asas juntinhas e o corpo tombado, sem vida. Somos assim também – e em muitas situações.
Somos insolentes: nem voltei para dar assistência, não fui enterrá-la, ou pelo menos avisar os parentes – consolar os amigos... – como somos! E isso acontece com todos os humanos.
A dor alheia não pesa tanto – ou pesa? Ou escondemos os sentimentos para tentarmos sobreviver nesse mundo ‘quase sem porteira’? A reflexão nem sempre evidencia a razão, mas por vezes a emoção também aflora. E quando uma ou outra aflora, sempre temos os problemas à tona. Esse vir à tona é o fator complicador.
A morte da borboleta é apenas um fato gerador – simples, mas é. A vida em si deve ser repensada, desfrutada com valor. Usar a razão, mas também dar evasão a emoção – afinal, como diz o cantor: “...somos humanos!”
30/01/2008
PCA - Araçatuba / SP