QUEM TEM INFLUÊNCIA NAS MINHAS PREFERÊNCIAS?

Ontem, dia 2 de dezembro desse ano que não tem mais fim, alguém que eu conversava numa reunião de trabalho, me perguntou que escritor me influenciava. Queria saber com quem se parecia a minha literatura. Bom; primeiro nem sei se o que escrevo é necessariamente literatura. E depois, em segundo lugar, acho muito esquisita essa coisa de “influência”. Em geral as pessoas confundem ter preferência com sofrer influência. Uma não é a mesma coisa que a outra; não se parecem, nem se conhecem. Eu prefiro o Grêmio Futebol Porto-alegrense. Torço por ele há muitos anos. Mas ele não me influencia em nada; não vou ao Olímpico-até porque estou a milhões de quilômetros de distância dele-não faço parte de torcida organizada, não brigo com ninguém nem dou porrada nos colorados. Também prefiro outras coisas.

Também prefiro Carlos Heitor Cony, por sua lucidez; Arnaldo Jabor, por sua ira santa; Elio Gaspari, por sua relevância; sem desgostar de outros mais. Esses, porque escrevem, muitas vezes, antes de mim e muitas vezes em meu lugar, aquilo que eu gostaria de dizer. Que bom! Contento-me, imaginando ser um deles. Pobre de mim! E ainda: como se os qualificativos que atribuo (que petulância, eu sei) desse a eles mais qualidade e importância.

Também prefiro Érico Veríssimo, Eça de Queiroz, Basílio da Gama, Vinícius de Morais e outros mais, que não cito para não parecer ser aquilo que não sou; e que não pareça também que eu seja conhecedor de todas as obras. Li alguns livros de cada um desses escritores e de outros mais. E destaco especialmente o livro de Jó, de autor desconhecido e O Conde Monte Cristo, de Alexandre Dumas.

O primeiro por razões que já expliquei na introdução de “Jó, a experiência do encontro com Deus não é uma teoria sobre ele” um livro que escrevi há alguns anos. O nome do livro é só Jó, assim bem pequeno; o subtítulo é que é muito grande. Destaco o Conde de Monte Cristo pela “vingança triunfante” de que ele trata, eu penso. Tirando a adocicação do happy end, me fascina, até hoje, o delicioso prato quente que saboreou monsieur Dantes. Pois nenhum desses autores influênciam em nada, no meu trabalho, nessa lida escrevinhatória de mais de 4 décadas. O que faço é bom, mas, nem chega perto do que fazem e do que fizeram os escritores dessa lista de preferências. Não por modéstia, digo isso, que nem falsa nem verdadeira tenho, mas por óbvia conclusão. Se não, eu mesmo me incluiria.

Como se vê, não sofro influência de nada, portanto, apesar das preferências explicitas. Não entendo como se pode produzir obra intelectual - na música, na pintura, na literatura, por exemplo, sem que o influenciado acabe copiando alguma coisa e perdendo, assim, sua própria originalidade. Falha minha, ou despreparo, mas, se “sofrer influência” significar “ser parecido”, fico ainda mais pasmo. Como alguém pode ser parecido com Guimarães Rosa, Adolfo Caminha, Alberto Moravia? Com Picasso, Modigliani? Só copiando! E aí não é influência. Tem outro nome.

CESAR CABRAL
Enviado por CESAR CABRAL em 10/12/2005
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