O contraste do envelhecimento
Ontem (27/01) foi meu aniversário. Como todos, ou quase todos sabem, completei duas décadas. É... Duas décadas. Mas não estou nem aí para a minha idade. E o mais engraçado é que no dia de meu aniversário eu não senti nada de especial. Antigamente sim, eu contava as semanas para chegada de meus ‘anos de vida’. Entretanto, nesse domingo que passou não foi desta forma. Eu acordei e nem lembrei que estava completando vinte anos. Até que meus pais me ligaram de praia parabenizando-me, foi aí que me acordei: Caramba! Hoje é meu aniversário! Acho que na medida em que envelhecemos perdemos o gosto pela comemoração de mais um ano de vida nesse planeta cada vez mais doente. Acho que na medida em que crescemos talvez também evoluamos. Outros não, é verdade. Todavia, isso se baseia em princípios.
Por exemplo, não há aniversário em que você não lembre da sua infância. Você mentaliza os anos que deixou para trás, começa a refletir sobre sua vida, sobre suas atitudes, sobre como você é na essência da alma. Acho que estou entrando na era dos aniversários nostálgicos. Bom, já se passaram vinte anos, penso. E na teoria, terei mais vinte anos, e depois mais vinte, e mais vinte e quem sabe mais vinte. Claro, isso se a linha da palma de minha mão permitir, ou meu mapa astral, ou os Deuses. Vai saber.
Outro dia eu estava no centro de Porto Alegre passeando para renovar meu espírito quando uma cigana de turba e dentes de ouro falso me agarrou pelo braço e insistiu ver as linhas da palma de minha mão esquerda. Lutei irrevogavelmente contra a força surpreendente da tal cigana, mas ela sabia o que estava fazendo. Essa cigana apertou o músculo de meu braço fazendo com que minha mão, involuntariamente, se abrisse. Ambos paramos. Ela ficou defronte para mim e então disse: você terá muita sorte no amor, e viverá muito, até ficar velhinho... Bem velhinho. Não vou mentir dizendo que não acreditei na tal cigana, seus olhos brilharam, e posteriormente ela sorriu pra mim. Foi então que ela largou meu braço, e eu, voltando a caminhar dei a resposta típica de minha personalidade: é... Eu sei, faço bastante exercício físico. Ela continuou rindo e balançou a cabeça com um sinal de simpatia. Depois desse dia passei a ver a minha vida com outros olhos. Será que essa cigana falou-me a verdade? Não posso descartar a hipótese de que ela tenha mentido. Mas a troco de quê? São muitas as dúvidas. Creio que quem faz o nosso destino somos nós mesmos. E se hoje ela ver minha mão de novo, vou continuar tendo sorte no amor e uma vinda longa? Não sei, e talvez não queira descobrir.
Quero apenas viver minha vida de forma segura e insegura, com amor e ódio, com problemas e soluções, com relacionamentos e casos, com sexo e paixão, com flores e espinhos, com brigas e beijos, com vontade e preguiça, com sol e lua, com praia e campo, com divergências e casualidades, e com aniversários nostálgicos. Senão viver, simplesmente viver seria muito fácil. Se bem que também não é tão difícil. E talvez sejam esses contrastes que deixam nosso cotidiano mais saboroso. Embora tenhamos que ser cuidadosos, pois sabores em demasia amarga o nosso romantismo. Aí seremos como os revolucionários do século XX, que supostamente lutavam por causas nobres e deixavam a vida para depois. Eis que o senso comum deveria ser o nosso ponto de equilíbrio. Sinto que mesmo com vinte anos terei que aprender a aceitar o meu envelhecimento vagaroso, e mesmo assim, letífico.