"Nossos tantos cantos"

Na rotina confusa e inebriante da vida e na perfeição imperfeita de ser humana, tenho andado pelos infinitos cantos de mim cometendo, por vezes, absurdos de me perder em labirintos que eu mesma criei.

Tenho vivido diferentes fraquezas do eu descobrindo que elas só se mantêm existentes se assim eu as quiser.

Tenho sentido violentas dores sem descobrir que talvez tenham curas dependentes de uma mente ironicamente independente.

Tenho fugido de sonhos esquecendo que talvez façam mesmo crescer.

Tenho diminuído realizações confundindo-as com a inalcançável busca pela perfeição

Tenho mergulhado em nuvens oriundas da imaginação do ser humano infantil

E no meio dessa delirante viagem por mim e quando achei que as surpresas da vida somente me fariam fortalecer equilíbrios e forçar evoluções sabidas necessárias, fui apresentada a uma realidade nova.

Essa realidade vinha de alguém que obviamente vivia viagens completamente diferentes das minhas, respirava, sonhava e visitava cantos diferentes dos que eu conhecia.

Tinha força infindável no que pra mim era mais fraco e inacessível.

Conhecia o significado e a realidade da palavra “perseverança”. Tive que ser, portanto, devidamente apresentada.

Após as formalidades e familiarizações necessárias ao novo, percebi que eu natural e bravamente hesitava em dar-lhe credibilidade (compreensível quando se trata de um ser que assumidamente morre de medo de qualquer semelhança com a derrota). Percebi que procurava consciente ou inconscientemente sinais de fraqueza, incerteza, insegurança, mesmo que camufladas.

Minha paranóia admitia que elas poderiam ser desmascaradas por um simples olhar perdido, voz fraquejada, movimento incerto, enfim qualquer “deslize” que minha inteligente, descrente e doente mente interpretasse como um sinal de hesitação.

Acostumada que sou com o medo de falhar quase direcionei para um caminho fácil e carregado de ignorância, a crítica do desconhecido.

Mas viciada que sou no crescimento constatei que em verdade meus olhos viam-se incontroladamente fixos e maravilhados com toda aquela insistência inabalável. Que lindo! Que bravura!

Perguntei, contraditei, vigiei, comentei, pratiquei. Pra então aceitar, acreditar, me maravilhar e admirar.

Compreendi a razão maior daquele encontro. Estava à minha frente, a ironia do meu mais forte ponto fraco. Algo que eu jamais e em nenhuma de minhas viagens, descobertas, encontros e evoluções, deixei aproximar.

A oportunidade de aprendizado era escancarada e quase demais para realidade.

A perfeição da vida trouxe este grande novo escondido em uma presença constante na minha vida, para que a lição fosse passada diariamente e quem sabe eu crescesse um pouco mais.

Ela agora estava ali e mais do que isso, tinha vindo pra ficar. Não por tê-la adquirido em meu espírito ou sabedoria, mas pq agora vinha como a maior das virtudes do homem que eu amava e por quem era amada.

Talvez alguém fale em teorias defensoras da idéia de que procuramos nos outros o que consideramos não possuir, ou de que os opostos se atraem etc.

Mas pra mim o que vale é a consciência da oportunidade e do privilégio de nos amarmos profundamente e de que esse amor pode nos fazer pessoas melhores. Sim pois eu certamente também terei novidades pra ele, pois se as viagens eram tão diferentes, imagine quantas lições temos pra trocar?

Hoje, tenho andado pelos infinitos cantos de nós permitindo que o crescimento também ocorra dentro dos mais trancados cômodos.

Tenho ampliado admirações procurando sugar algo que ainda não fui capaz de aprender com a vida.

Tenho admirado sua força dando-lhe oportunidade para fraquejar.

Tenho amado o amor humilde pronto pra dar, compartilhar e receber.

Tenho amado você. Tenho amado nós dois. Ainda mais.