Romance na Medida Certa
Romance na medida certa
Homens estão sempre atentos a cada milímetro de mudança em um corpo feminino. São capazes de distinguir à distância de quem é aquela cinturinha, ou de quem são aqueles pares de seios. Mas transformar isto em uma unidade de medida é um terrível problema.
O caso se aplica perfeitamente a Bruno, um rapaz de 26 anos formado em bioquímica. Seu trabalho exigia muita dedicação e tempo, mas mesmo assim ele ainda arrumava algumas horinhas para passar ao lado de sua namorada, a modelo Vitória, de 24 anos.
Os dois já estavam juntos há sete anos, e raramente tinham problemas em seu relacionamento. Em uma tarde de julho, mês em que se comemorava o aniversário de namoro dos dois, eles se encontram para festejar.
- Tome, é para você! – disse Vitória estendendo um grande embrulho para Bruno – Espero que goste!
Ele rapidamente desembrulhou o presente, e disse:
- Uma maleta nova! Muito obrigado! Era exatamente o que eu precisava. A minha já estava caindo aos pedaços.
- Olhe aqui – diz Vitória - Tem um bolso para carregar suas canetas, e várias repartições para você separar seus arquivos. Há também espaços para agendas e calculadoras. Tudo nos mínimos detalhes.
Bruno guarda seu presente e pega o seu embrulho, entregando-o para a modelo, que ao abrir não mostra muita satisfação.
- O que foi amor? Não gostou do presente?
- Gostei sim, é um vestido lindo! Mas não é o meu tamanho. Vai ficar enorme em mim.
- Mas como você sabe se ainda não o experimentou? – pergunta Bruno indignado – A moça da loja me disse que só sabemos se ficou bom quando experimentamos. Não vai ao menos ver se ele serve em você?
- Não faz sentido eu experimentar, só de olhar eu sei que não vai servir. Cabem duas de mim aqui dentro. Você nunca acerta as minhas medidas. Eu sempre compro suas cuecas e meias e nunca errei uma única vez. Agora você parece que não liga para mim... Só de ter comprado esse vestido você prova que me vê como uma baleia.
- Minha flor do campo, para que brigarmos por uma coisa tão boba assim? Amanhã cedo voltamos até a loja, trocamos o vestido e ponto final. Me desculpe, eu prometo nunca mais errar.
Assim fizeram. No dia seguinte foram à loja, trocaram o vestido, ele comprou algumas jóias para agradá-la e, por fim, tudo se resolveu. Voltaram para casa e no meio do caminho ela foi lhe falando todas as suas medidas, até de peças íntimas, para que ele nunca mais errasse. Bruno anotou todas assim que chegou em casa, apenas por precaução.
Esta não era a primeira vez que Bruno errava. Vivia esquecendo o número dos calçados, calças e blusas de Vitória. Para ele, esses detalhes eram insignificantes, não passavam de frescuras femininas e se resolviam facilmente após meia hora de falatório. Mas seu próximo erro seria fatal...
Promovido em seu emprego, e depois de todos esses anos de namoro, decidiu que era hora de pedir Vitória em casamento. Eles se davam tão bem, e ele sabia que a família de ambos aprovaria a idéia, então não tinha erro. Estava decido a firmar para sempre esse amor.
Queria que o momento fosse especial. Planejaria tudo nos mínimos detalhes para não aborrecer Vitória. Procurou o melhor restaurante da cidade, reservou a melhor mesa do local e pediu à banda que ensaiasse as músicas favoritas dela para o momento.
Quando foi até o ourives comprar as alianças, ele lhe perguntou:
- Qual é o número do seu dedo e o da moça?
- Existe medida até para isso? – perguntou Bruno intrigado
- Claro que sim, ou você pensa que todos os dedos são do mesmo tamanho? – respondeu o ourives – Olhe aqui, eu tenho um medidor, me empresta sua mão que eu já olho o seu número.
Bruno enfiou a mão no bolso e retirou o papel que continha os números da mulher, mas lá não falava nada sobre a medida do seu dedo anelar esquerdo. Então tomou por medida o seu dedo e pediu duas alianças iguais, e se não servisse na esposa, trocaria no dia seguinte como de costume.
Enfim a grande noite chegou. Vitória estava encantada com o ambiente, nunca esteve em um lugar tão luxuoso. Pediram duas panquecas de frango, prato simples porém o preferido dela, e quando o garçom trouxe a comida, Bruno deu sinal para a banda começar a tocar. Ela estava tão encantada com a música que nem viu quando seu namorado, copiando uma cena clichê que já tinha assistido em muitos filmes, colocou a aliança dentro da panqueca, para lhe fazer uma surpresa.
Começaram a comer, e Bruno começou a falar:
- Vitória, você sabe que eu te amo muito. Minha vida sem você não é nada. Nenhum poeta conseguiria expressar um amor tão grande quanto o meu por ti...
Mas Bruno parou de falar quando percebeu a cara assustada de Vitória. Será que ela não esperava por isso? Foi o que passou por sua cabeça. Mas passou por poucos segundos, pois logo em seguida ela já estava com as duas mãos apertando seu pescoço, tentando falar algo, mas não estava conseguindo. Só soltava alguns grunhidos abafados, caindo no chão logo em seguida e se contorcendo de aflição.
Todos os clientes se levantaram preocupados, a música parou, deixando o restaurante em silêncio absoluto. Bruno desesperado segurava as mãos de Vitória firmemente, perguntando o que estava acontecendo com ela, implorando para que melhorasse. Foi quando percebeu, analisando suas mãos entrelaçadas, que seu dedo anelar era quase duas vezes maior que o de sua namorada.
Após o último sussurro de Vitória, Bruno estava imóvel e sem palavras. Tinha acabado de matar acidentalmente sua esposa. Contou o caso para a polícia que acabou mandando-o depor sobre o caso na delegacia. Quando ele entrou aflito na viatura apenas um pensamento martelava em sua cabeça. Se ele tivesse acertado pelo menos dessa vez, talvez ela engolisse o anel e o destino seria diferente.