Para ler com moderação
Ficarão melhores se lidas aos poucos, pois de maneira apressada seria como comer uma salada com diferentes temperos, um em cada folha. Qual deles resultou no melhor sabor? Impossível saber, embora todos sejam bons.
Não acho recomendável, portanto, tentar a leitura das “100 melhores crônicas brasileiras” organizadas pelo Sr. Joaquim Ferreira dos Santos sem um mínimo de critério. Eu, por exemplo, comecei pelo fim e fui marcando as páginas, não sem ler algumas fora de ordem também. Afinal, como deixar para depois crônicas de Luis Fernando Veríssimo, João Ubaldo Ribeiro, Mário Quintana, Fernando Sabino, Chico Buarque, Carlos Drummond de Andrade...
Tem de tudo. Há uma crônica que começa assim “- Este texto é sobre ninguém. Meu avô não foi ninguém...” e que conclui com “- Mas nunca houve ninguém como ele.” Imaginem o que o Arnaldo Jabor teve que desenvolver em pouco mais de 2 páginas entre a frase de abertura e a de conclusão...
A apologia que o Mario Prata faz dos bares ruins que costuma freqüentar, como todos os “meio intelectuais, meio de esquerda”.
A do Chico Buarque procurando um lugar ao sol em Capri, não para compor ou cantar, mas literalmente para sentar-se na praia : pensem no que pode ter rendido esse tema !
Uma deliciosa e muito bem sacada crítica ao emprego exagerado do gerúndio (Para você estar passando adiante, de Ricardo Freire): “- Nós temos que estar nos unindo para estar mostrando que pode estar existindo uma maneira de estar aprendendo a estar parando de estar falando desse jeito”
Talvez uma das melhores (das 30 ou 40 que já li) é uma dessas em que fui “convidado” pelo autor para sair da minha seqüência de leituras: Carlos Drummond de Andrade e sua “Garbo: novidades”, em que ele inventa uma verdade mas com tanta convicção e talento que quase nos faz acreditar na presença da diva do cinema Greta Garbo em Belo Horizonte, incógnita, por um período de 5 meses!
Não conheço o organizador, não tenho nenhuma ligação com a editora e acho até que nenhum deles precisa da minha opinião para nada. Só compartilho com os colegas freqüentadores do mesmo site por puro impulso: Vale!