Os Causos do "Seo" Heitor

Desde muito pequeno eu gostava de ouvir o “Seo” Heitor contar coisas que ele tinha ouvido, participado ou assistido. A sua narrativa prendia a gente de tal maneira que parecia que tínhamos participado da história. No seu jeito especial de conduzir o caso, ninguém perdia uma palavra. Ele era um orador nato. Às vezes eu fico pensando: Será que se ele tivesse tido oportunidade, não teria sido mais que um oficial ferroviário e dos bons ? Segundo aqueles que trabalharam com ele, foi o melhor torneiro, aplainador e fundidor da Cia Mogiana. Como já falei muito do “Seo” Heitor, vamos a um “causo” que eu nunca vou esquecer.

Corria o ano de 1931 e o “Seo” Heitor, nesta época, era fundidor e tinha como ajudante um moço filho de alemães, chamado Paulo Singer, e que tinha trabalhado em circos na sua terra, que era Brusque, em Santa Catarina, e que tinha deixado a família para correr mundo. “Seo” Heitor contava que todas as vezes que vinha alguma caravana de políticos, empresários ou artistas, de São Paulo ou do Rio de Janeiro, ele se misturava com os daqui e os de fora e lá iam estação abaixo para um lauto almoço ou jantar. Naquele tempo eles chegavam sempre de trem.

A tática do Paulo era a seguinte: ele ia à estação com sua mala, e no banheiro ele colocava a sua bela roupa, com gravata borboleta e sapato de verniz, e guardava a mala com sua roupa comum no maleiro da estação.

Dizia o “Seo” Heitor, que ele era o primeiro a dar as boas vindas aos visitantes. Depois de alguns instantes ninguém mais sabia de onde ele era. Os daqui achavam que ele era de lá e os de lá achavam que ele era daqui. E assim, segundo ele contava ao “Seo” Heitor, duas a três vezes por mês ele participava de grandes banquetes regados a champanhe francês, vinhos italianos e portugueses. Coisas caríssimas na época. Como “Seo” Heitor dizia, coisas que ele só fôra apreciar uns 30 anos depois.

Agora vocês vão me perguntar, como eu tinha tanta afinidade e facilidade para ouvir os seus casos e eu lhes digo: o “Seo” Heitor era meu pai.

Laércio
Enviado por Laércio em 26/01/2008
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