Teleconferência

Júlio discou apressado os números para a Teleconferência. Já estava atrasado e não gostava disso. Mas do outro lado, ao invés das vozes habituais, apenas o silêncio.

- Alo, é o Júlio, quem está ai?

- Oi, aqui também é o Júlio. - Respondeu uma voz incrivelmente parecida com a sua.

- Que brincadeira é essa? Meu amigo, essa teleconferência é minha. De onde você conseguiu esse número.

- Pois é, é minha também. Você pode conferir o código.

- Escuta aqui rapaz, eu uso essa linha todas as Segundas-feiras, nesse mesmo horário, a quase um ano.

- Talvez seja esse o problema, porque hoje é Quinta-feira.

Agora Júlio não entendia mais nada, conferiu a data no celular, e no notebook. Ambos batiam. Não estava bêbado ou coisa parecida. Respondeu confiante.

- Quinta? Acho que quem está perdido é tu rapaz. De onde tu tirou essa?

Foi quando a voz respondeu também segura:

- Aqui quem está falando é Júlio Martins, e hoje é Quinta-feira, 11 de Agosto de 2011.

O sangue de Júlio gelou nas veias. Que brincadeira maluca era essa? Estava falando consigo mesmo no futuro? Isso seria fácil de descobrir.

- Ok, se sou eu mesmo que estou falando, me responde algo que só eu saberia.

- Manda.

- Qual era o nome do meu cachorro na época da faculdade?

- Ah, essa é fácil. Mulder. Em homenagem ao Fox Mulder, dos Arquivos X.

Caramba!!! E agora? O que fazer? O que falar? O que perguntar?

- Júlio? Cara, sou eu mesmo? Me fala como eu estou então, como é o meu futuro.

- Ah Júlio, tu sabe que não dá pra falar tudo, não posso estragar as surpresas. Além do mais tem aquela regra básica do espaço-tempo.

- Eu sei, não se pode alterar nada significativo. Bom, mas fala alguma coisa então. Imagino que eu ainda esteja trabalhando na empresa, se ainda estou usando esse número.

- Sim, isso eu posso dizer, ainda estamos trabalhando aqui.

- E eu fui promovido? Eu tenho ralado tanto para isso.

- A promoção vai vir também, talvez não exatamente quando tu espera, mas vai chegar.

- Legal, que mais?

- Sei lá, posso te dar um conselho? Segue fiel aos teus ideais. É isso que vai fazer a diferença quando a coisa apertar.

- A coisa vai apertar então?

- Sabe como é né, aperta mais depois melhora, a vida é a assim mesmo, mas tu vai se dar bem, pelo menos até aqui.

- Puxa que loucura essa conversa, como é que isso aconteceu.

- Ah, Júlio, agora eu tenho que ir. Tu sabe como é, aqui no futuro a correria continua a mesma. Lembrei de mais uma coisa. Semana que vem tu vai viajar né?

- Isso, vou para a aquele congresso no Canadá. Palestrantes do mundo inteiro, a expectativa é grande.

- Cara, tu só vai te incomodar nesse congresso. As palestras vão ser uma porcaria, vai dar problema aqui na empresa e eles vão ficar te ligando o tempo inteiro. Até a tua mala eles vão perder. Quer um conselho? Deixa de lado o congresso, outros melhores virão.

- Pois é, mas eu tava planejando a tanto tempo.

- Bom, tu que sabe. Deixa eu ir lá agora. Te cuida, cuida da gente. Um Abraço.

- Outro.

Depois de desligar, o Júlio do futuro, olhou no porta-retratos. A foto mostrava ele e seu pai numa pescaria. Na semana que vem fariam três anos que havia perdido o pai, vítima de um enfarto fulminante. Júlio nunca se perdoou por não poder dar aquele último abraço no velho, por não poder ficar ao lado da mãe no velório. Desejava mais sorte ao seu eu do passado.

[]s

Jack DelaVega

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