UMA GALINHA PARA LER JORNAL
Talvez por ser de origem interiorana, sempre gostei de consumir produtos in natura adquiridos no mercado público, na maioria das vezes, diretamente do produtor, e, portanto, mais barato.
Não estou falando da feira de Caruaru que o Brasil conheceu através de Luís, o Gonzaga, filho de Januário. O caso aconteceu comigo nos anos oitenta, num dia de sábado, na feira de Santa Maria da Vitória(BA).
Depois de comprar quase tudo que precisava, comprei, por último, uma galinha caipira, vivinha da silva. Paguei e saí.
Chegando em casa, a mulher reparou bem na galinha e me disse com certo ar de repreensão:
"Você comprou uma galinha cega!"
Voltei em cima do rastro, ora essa, eu, um homem importante na cidade, enganado por um caipira!
O camponês estava no mesmo lugar com seu garajau de galinhas, já bem escolhidas... só restavam as menores e um galo velho arrepiado.
"Moço! Você me vendeu uma galinha cega!"
O homem reparou bem pra mim... "um homem polido,talvez um doutor ou um bancário".... deu uma sacudida galinácea de arregalar os olhos.
"Tá vendo! A galinha não é cega! Mas se fosse? Você vai querer a bichinha pra fazer à cabidela, ou para ler joral?"