Daqui não saio

“Daqui não saio

Daqui ninguém me tira”.

Paquito e Romeu Gentil

Este poderia ser o hino de Fidel Castro, Lula, Evo Moralez, Renan Calheiros, Hugo Chávez e muitos outros. Poderia também me referir ao grito de guerra do meu marido na cervejada das noites de quinta-feira com a turma do tênis. Mas hoje não vou tratar de política ou de hábitos masculinos peculiares. Com a aproximação da data, entrei em clima carnavalesco. E meu ânimo está mais para fincar pé na cidade previsivelmente esvaziada pelo feriado prolongado.

Apareceram oportunidades interessantes para debandarmos: uma fazenda no interior, uma praia do Espírito Santo, Rio de Janeiro. Mas fomos recusando os convites, um a um : a febre amarela já fez a primeira vítima em Minas, a violência urbana é o maior serial killer do país, fizemos duas viagens à praia em janeiro. As justificativas, apesar de plausíveis, não passam de meras desculpas.

É que há três anos descobrimos os prazeres de passar o Carnaval em uma cidade semi abandonada. Francamente, ir ao cinema sem enfrentar filas, fazer compras num supermercado de corredores desimpedidos, estacionar facilmente o carro ao levar as meninas ao baile do Minas Tênis Clube são programas muito mais interessantes do que dispender duas horas só para sair da cidade, enfrentar estradas mal conservadas, motoristas ousados e três dias e noites no mesmo batidão da música repetitiva. Que fim levaram as antigas marchinhas de carnaval?

Já passei ótimos carnavais em cidades interioranas – Diamantina, Corinto, Curvelo, Sete Lagoas, Pirapora –, na costa sul do Espírito Santo e da Bahia, em campings na Serra do Cipó, em Salvador, no Rio... Outros eram os tempos ou era outro o meu estado de espírito. Ultimamente não tenho mais tímpano para barulho excessivo, paciência para gente que comete excessos, fôlego para me espremer na multidão ou paladar para cerveja quente, mesmo em boa companhia. É o passar do tempo, inexorável, que deixa marcas nas nossas preferências.

O colegiado familiar resolveu: daqui ninguém nos tira. Arredaremos pé no máximo 20 quilômetros, até a casa de campo. Lá há de ter cerveja gelada, banho de piscina - se a chuva estiar -, música de qualidade e muito espaço livre. Enquanto a prosa corre solta, aguardaremos pelo início do ano. As férias se prolongaram, mas o ano comercial vai começar mais cedo. Depois da quarta-feira de cinzas, 2008 se instala pra valer.

Maria Paula Alvim
Enviado por Maria Paula Alvim em 25/01/2008
Reeditado em 25/01/2008
Código do texto: T831898
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