O SER HUMANO DOS MARES
Na imensidão de águas que fazem da Terra um planeta azul, talvez seja a causa da nossa fascinação pelos mares e rios. Nossos olhos seguem os percursos da correnteza de um rio acompanhando a sábia natureza a contornar pedras. Desviar dos obstáculos que lhe são mais fortes, sem pesar. Passar por cima de outros tantos, sem causar-lhes graves feridas, mas desgastando-os levemente, pouco a pouco, vencendo-lhes a resistência sem usar a força, apenas a perseverança. Respeitando a margem que limita seu caminho, acariciando-lhe as bordas como quem agradece a orientação. E lá vai a água, sem olhar para trás em momento algum, um doce grupo de 2 moléculas de hidrogênio e 1 de oxigênio, simplesmente H2O.
Essa fórmula pode também ser mais salgada e estender seu alcance pelo horizonte. A singela obediência das águas dos rios que diluem entre as águas do mar, mesmo sabendo que em algum momento ela retornará ao princípio de tudo e refazer o caminho quantas vezes lhe seja pedido. Nem questiona o mar porque aceitar essa aparente igualdade, misturando-se a ele continuamente sem descanso. Ainda que isso altere o ritmo do bale de suas ondas sendo uma força menor. Assim como o mar é maior do que o rio em volume, tem por trás de si um volume ainda maior, que é o oceano. A estrada líquida e concreta que todas as nossas distantes porções de terra mais distantes.
Tudo vem fortalecer a importância das lições que a natureza nos oferece todos os dias. Ela sustenta nossa vida e ainda nos ensina como conduzi-la. Faz sua tarefa com humildade. Realização silenciosa sem fazer alarde de sua nobre obediência. Nem o oceano sendo ainda maior que os dois primeiros, utiliza seu poder para submetê-los a sua vontade. Tudo funciona em harmonia até com seus habitantes. Harmonia essa, só é desequilibrada por um terceiro agente o mais fraco de todos eles: o ser humano. Ele tem acesso às pesquisas, estudos, avanços tecnológico, mas não se propôs a ser também harmonioso. Os animais, ditos irracionais cumprem melhor o seu papel que os evoluídos homo-sapiens, considerados “donos do mundo”.
Se quisermos observar algo mais próximo da nossa condição de “seres elevados”, basta olhar para o mar. O mar para nós terrestres sempre representou liberdade. Lindos jardins de corais multicoloridos e um incontável número de espécies a agitar a profundezas do oceano. Sua sociedade é organizada e pacífica o suficiente para provê-los em suas necessidades, portanto, são poucos os que conhecem a superfície, nós é que buscamos por eles. Mas não o golfinho, ele é único, diferente, comunicativo, sociável! Ele trás até nós seu carisma todo especial; sua alegria contagiante hipnotiza a quem quer que perceba sua presença; seu balé de saltos acrobáticos é um espetáculo a parte.
Esses animais selvagens não reagem nem quando atacados pelos civilizados daqui, será que o termo civilizado tem o mesmo conceito nos dois ambientes? Eles também são detentores de uma generosa personalidade capaz de socorrer náufragos. A falta de informações incita tanto a nossa curiosidade que desde os primórdios dos tempos, muitas estórias são inventadas para suprir os mistérios que envolvem esses magníficos mamíferos. Dentro da mitologia grega, contam que quando Poseidom, o Rei do Mar, se apaixonou confiou somente ao golfinho à missão de mensageiro do amor, entre ele e sua amada. Já os marinheiros acreditavam que o fato dos golfinhos fazerem tantas boas ações quanto possível, seria uma forma de desfazer os erros cometidos em outra vida no corpo de homem. Mais um detalhe peculiar, é que diferente de nós, eles agem por conta própria, independentemente, instintivamente percebem a situação interna de outros animais e inclusive do homem. Seu sonar parece captar a sintonia das ondas vibratórias que o outro está emitindo naquele momento, afinal eles emitem 150.000 vibrações por minuto. Procuram se comunicar conosco cordialmente, captam o nosso interior e nós somos mais uma vez incapazes de nos compadecermos do olhar desolador com o qual somos olhados aos capturá-los abruptamente separando famílias e grupos inteiros! O mar de lindo azul passa a vermelho sangue...
Golfinhos ou botos como também são conhecidos, já foram chamados de “vozes do mar” e até de “intelectuais dos mares”, tanta coisa temos para aprender com eles que é provável que uma vida não seja suficiente. Enquanto nós temos colóquios internacionais, governamentais e proteção ambiental. O golfinho em seu sóloquio não depende de leis para nos defender de um tubarão ou colaborar terapeuticamente no tratamento de crianças altistas sem revoltar-se contra seu cativeiro, nada pede em troca, apenas liberdade, pois em liberdade ele já age assim! Há muito mais significado nesses animais do que podemos imaginar, está além da nossa compreensão, toda nossa evolução não nos permite desvendar tudo, talvez não estejamos ainda preparados para tal.
A verdade é que nós não podemos nos colocar como superiores a ninguém, nem a nada. Não há nada ou ninguém com os quais não possamos aprender algo; tampouco que não possamos ensinar as gerações futuras. Dizem que o “tempo não para”, mas a evolução também não. De que adianta passarmos à vida adormecidos, acordando horas, dias, meses, anos depois na ilusão de abreviar o tempo de esforço? Mais uma vez o golfinho nos mostra um domínio cerebral com o qual conseguem paralisar parte do seu cérebro por 8 minutos, enquanto que sem nenhum domínio nós paramos nossas vidas inteiras em 1 minuto! Raras são as exceções dos seres humanos da terra que desenvolvem essas qualidades, sabem aproveitar seu potencial sem mesquinhez alguma, mesmo que com isso não seja ele próprio o único beneficiado. Por tudo isso, são eles merecedores de leis que cuidem para evitar sua extinção, assim como são merecedores do título de “SERES HUMANOS DOS MARES”. Se permitirmos que eles sejam apagados da face da Terra, a próxima espécie a ser extinta pode ser a nossa.