PRESOS NUM ELEVADOR .
Naquele dia eu estava com muito mais apetite do que o habitual. Era sexta feira, não fazia calor e tudo estava convidativo para aquela tradicional feijoada. Eu e mais quatro colegas tínhamos combinado aquele almoço e enquanto aguardávamos a chegada do elevador comentávamos sobre a delícia que era a caipirinha como aperitivo, o torresmo e as outras carnes, que eram simplesmente divinas.
A única mulher do grupo, a que comia menos, por precaução (as mulheres são sempre precavidas) estava levando várias balas de hortelã para combater o cheiro dos aperitivos. Como estava em cima da hora, para reservar os melhores lugares e para não atrasar a turma, resolvi deixar para ir ao banheiro quando chegasse ao restaurante.
Nosso escritório ficava no vigésimo sexto andar de um prédio todo envidraçado e do hall dos elevadores dava para ver uma bela paisagem, inclusive a entrada do restaurante que nos aguardava com aquela maravilhosa comida. O primeiro elevador desceu lotado o que aumentou ainda mais nossa impaciência.
Alguém teve a brilhante idéia de sugerir que subíssemos no próximo elevador até o último andar para que de lá pudéssemos descer direto. Realmente não posso afirmar que a idéia tinha sido boa, mesmo por que ninguém poderia imaginar o que aconteceria nas próximas duas horas.
Nosso prédio tinha trinta andares e justamente no último ficavam os escritórios do presidente e demais diretores da empresa. Quando as portas do elevador se abriram, estavam justamente esperando para descer o presidente e o diretor financeiro, respectivamente o numero um e o numero dois da empresa.
Respeitosamente, cumprimentamos os dois e com o aspecto solene que a ocasião exigia, esperamos que as portas fechassem , para que em silêncio e olhando para o chão pudéssemos chegar ao térreo.
No elevador éramos seis, quatro empregados , o presidente e um alto membro da diretoria. A descida prosseguiu normal e silenciosa até a altura do l6º andar e quando ninguém esperava sentimos um forte sacolejo, apagaram-se as luzes e o elevador parou.
Nos primeiros instantes ficamos em absoluto silêncio, como se tivéssemos a certeza de que logo tudo voltaria ao normal. Mas a demora e o silêncio, eram o prenúncio de que estávamos com um sério problema. A colega começou a rezar em voz alta e o presidente da empresa tentou acalmá-la.
Alguém sugeriu que pedíssemos socorro pelo celular, já que o interfone do elevador não estava funcionando e não estávamos conseguindo abrir as portas. Incrível coincidência, ninguém tinha trazido o celular.
Na falta do que fazer, nós os empregados, resolvemos nos apresentar e como estávamos no escuro resolvemos relatar ao presidente da empresa onde iríamos almoçar. Para nossa surpresa, ele nos disse que também estava indo para o mesmo lugar. Foi só nesse instante que o diretor financeiro resolveu falar alguma coisa e podem acreditar, seria melhor que ele tivesse ficado calado.
Dirigindo-se ao presidente o diretor disse em voz baixa estar arrependido de não ter ido ao banheiro antes. Outra desagradável surpresa, o presidente concordou afirmando que também ele, que era presidente mas não era de ferro, estava apertado e também com muita vontade de se aliviar.
Vocês devem se lembrar que no inicio da crônica eu tinha dito que também não fora ao banheiro só para ganhar tempo e agora, preso num elevador e no escuro, não sei se aguentaria mais uns dois minutos naquela agonia. Para disfarçar disse ao presidente que certamente as portas do elevador não demorariam a ser abertas e então seriamos três a correr para o banheiro para “tirar água do joelho”, sentir aquele alívio relaxante e lavar as mãos com um sabonete bem cheiroso.
Minha colega me cutucou , informando para os demais que não eram três que precisavam de alívio, mas com ela, seriam quatro. Quase ao mesmo tempo, os outros dois praticamente gritaram que não eram quatro e sim cinco e depois também o sexto.
Resumindo a situação: dois alto executivos e quatro funcionários, entre eles uma mulher, estavam presos num elevador escuro, sem celular e todos com vontade de ir ao banheiro com a máxima urgência. Minha colega, começou a chorar, dizendo-se injustiçada por ser a única mulher naquela terrível situação.
Entre lágrimas copiosas, ela dizia que se fosse homem faria xixi ali mesmo no elevador e para tentar acalmá-la, nosso bravo e cavalheiro presidente sugeriu que como éramos cinco homens, faríamos um pacto de virarmos todos para o canto contrario ao que estava a moça , fecharíamos os olhos (no escuro, não sei se faria diferença) e ela poderia urinar a vontade.
Um dos meus colegas protestou, alegando que também estava apertado e que teria os mesmos direitos. A discussão aumentou de uma maneira ridícula e aflita, até que quando menos se esperava, as luzes se acenderam e o elevador voltou a funcionar normalmente.
Ninguém entendeu quando as portas finalmente se abriram no térreo e seis pessoas pálidas e andando com certa dificuldade, dirigiram-se o mais rápido possível para o banheiro, onde seis suspiros de alívio puderam ser ouvidos pelas paredes.
Seria cômico se não fosse trágico e o que salvou o dia foi que todos almoçamos juntos e nosso presidente pagou todas as despesas, mas com a condição e juramento solene de que nenhum de nós comentaria o fato com ninguém.
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NOTA: O melhor conselho que posso dar é , antes de ir a qualquer lugar, principalmente quando tiver que tomar elevador, não deixe de ir ao banheiro .
(.....imagem google.....)